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Um Homem Entre Gigantes desperdiça o talento de Will Smith

Foto do escritor: Guilherme CândidoGuilherme Cândido

A maioria deve saber que o futebol americano é o esporte mais popular dos Estados Unidos. Cada partida costuma ser assistida por mais de 20 milhões de pessoas, mobilizando desde jovens a idosos, homens e mulheres, ricos e pobres. E se estamos falando de uma demanda tão alta, não é difícil imaginar o quão lucrativo esta deve ser. Agora, e o que aconteceria se aparecesse alguém, não um qualquer, mas um médico altamente qualificado, e dissesse (provasse) que a prática de tal atividade pode causar danos cerebrais irreversíveis e, consequentemente, a morte? Mais do que isso, e se essa história, que já seria interessante por si só, tivesse como personagem central alguém que sofresse preconceito não apenas por ser negro e “não-americano” (é nigeriano), mas por também adotar métodos pouco ortodoxos em seu trabalho? Infelizmente, o resultado (acredite se quiser) é um filme pouco envolvente e que consegue desperdiçar quase todo o seu potencial.


Escrito e dirigido por Peter Landesman (do regular Kill The Messenger), Um Homem Entre Gigantes demonstra sua vocação para os diálogos expositivos já na primeira cena, quando vemos o personagem vivido por Will Smith soltando várias informações sobre sua formação acadêmica de forma completamente desvairada. Mas se essa cena em especial até funciona, o mesmo não pode ser dito a respeito do restante da projeção que utiliza o recurso à exaustão, resultando num filme carregado de cenas artificiais.


E por falar em artificialidade, a atriz inglesa Gugu Mbatha-Raw tem a infelicidade de interpretar a mais desnecessária das personagens, não conseguindo trazer relevância a um papel que só existe para possibilitar um descartável e mal construído romance. Artificial e insossa, Mbatha-Raw protagoniza os piores momentos do filme, quase sempre soltando, de forma súbita e aleatória, frases dignas de um livro de autoajuda.


Já Smith tira leite de pedra para transformar seu Dr. Omalu numa figura nobre e fascinante. Mesmo com o fraco roteiro que tem em mãos, o ator consegue conferir força e sensibilidade a um personagem que poderia facilmente enterrar o projeto caso fosse interpretado por alguém menos talentoso. E chega a ser inacreditável ver que toda a sua entrega ao papel foi completamente ignorada pelas grandes premiações do ano. O restante do elenco, recheado de rostos conhecidos que incluem Alec Baldwin, David Morse e Albert Brooks (estes dois últimos sob forte maquiagem), apenas cumpre tabela, valendo o destaque apenas para o personagem de Morse, que acaba tendo um pouco mais de tempo de tela.


Por fim, o roteirista e diretor Peter Landesman, além de falhar miseravelmente na concepção dos diálogos, ainda conduz a trama da forma mais burocrática possível, o que traz severos problemas de ritmo a uma narrativa já prejudicada por contar com uma estrutura repleta de clichês.


No papel, Um Homem Entre Gigantes tinha potencial, mas o que vemos na tela é um filme pretensioso e moroso, com diálogos terríveis e uma trama repleta de artificialidade, que só não chega a ser uma catástrofe graças ao talento e ao carisma de seu astro principal, esquecido pelas grandes premiações.


NOTA: 5


Publicado originalmente no site Central 42 em 6 de Março de 2016




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