top of page
Foto do escritorGuilherme Cândido

"Twisters" resgata a potência dos filmes-catástrofe


Apesar das estreias de Missão: Impossível (o primeiro!), Gaiola das Loucas e O Professor Aloprado, 1996 foi o ano dos filmes-catástrofe e coube a Twister varrer a concorrência, ficando atrás apenas do fenômeno Independence Day, colega de subgênero. Curiosamente, mesmo com fartas bilheterias, alienígenas e tornados só ganhariam sequências décadas depois (ao contrário de Ethan Hunt, que encabeçaria uma das mais longevas franquias de ação norte-americanas). Quase trinta anos depois, eis que Twisters chega às telonas com a promessa de entregar mais um espetáculo de destruição, agora liderado pela nata da nova geração de estrelas hollywoodianas.

A britânica Daisy Edgar-Jones, da série Normal People e dos cultuados Fresh e Um Lugar Bem Longe Daqui, é Kate Cooper, a protagonista da nova aventura, herdando a vaga de Helen Hunt (ausente dessa vez). Kate desponta como a voz mais confiável quando alguém procura por sinais de tornados, mas nem ela é capaz de prever a massiva tempestade que abre a história e deixa uma trilha de estragos por onde passa e também na sua vida.

Cinco anos depois do trauma, ela é persuadida por Javi (Anthony Ramos, coadjuvante em Nasce Uma Estrela e protagonista de Em Um Bairro de Nova York e Transformers: O Despertar das Feras) a acompanhá-lo durante um evento sem precedentes em Oklahoma, ponto central no chamado “corredor de tornados” no centro-oeste estadunidense. O que ela não sabe é que dezenas de outros caçadores de tempestades também marcarão presença, entre eles o carismático, mas convencido, Tyler Owens (Glen Powell, do recente Assassino Por Acaso e do hit Top Gun: Maverick), celebridade da internet que atrai multidões com seu canal no YouTube.

É interessante como Twisters se apega ao Cinema mais simples e prático dos anos 90, seja pela nostalgia ou pela própria manufatura mais arcaica (o uso das canções, a trilha incidental, o foco na aventura, a preocupação com o star system), sem esquecer de trazer a franquia para os dias atuais, atualizando-se para receber um novo público, especialmente aquele que não era nascido quando uma simpática vaca era levada pela força do vento.

Novas traquitanas como drones e outras bugigangas tecnológicas (ou gadgets, para me enturmar com os geeks) turbinam o arsenal dos amantes de fenômenos climáticos enquanto a natureza (ou o CGI) faz o resto. Enquanto o original dispunha de 88 milhões de dólares para atirar o espectador numa catástrofe meteorológica, o novo longa-metragem utiliza, sem parcimônia alguma, duas centenas de milhões previstos no orçamento. A começar pela ótima sequência de abertura, os efeitos visuais provenientes da sempre impressionante Industrial Light & Magic, são a cereja do bolo preparado pelo diretor Lee Isaac Chung e sua equipe.

Indicado ao Oscar pelo caloroso Minari – Em Busca da Felicidade, Chung não demonstra muita afinidade com a ação, mas é hábil o bastante para adicionar um volume surpreendente de tensão logo nos primeiros minutos de projeção, mostrando um belo cartão de visitas à medida que eleva as expectativas para o que virá a seguir. E ele não decepciona, mesmo com um cartel limitado de opções à sua disposição. A mercê dos ventos, Twisters funciona não apenas por manter o público preso nas poltronas graças à intensidade de seus melhores momentos, mas também por equilibrá-los com uma atmosfera sempre leve e descompromissada. Ao contrário do filme de 1996, que priorizava o terror diante da força da Natureza, essa continuação até presta reverência, mas opta, sem hesitar, por uma abordagem mais aventuresca.

Se a maior atração da produção passa longe de ser uma surpresa, o roteirista Mark L. Smith (O Regresso, Operação Overlord) é inteligente ao mostrar ter algumas cartas na manga, como a ideia de estruturar a trama nos moldes de uma típica comédia romântica. Com isso, o excesso de explicações científicas, dadas em diálogos expositivos que buscam satisfazer uma necessidade absolutamente descartável, quase passa desapercebido diante do ótimo elenco reunido. Ora, se estamos falando de uma potencial comédia romântica, o texano Glen Powell, protagonista da febre Todos Menos Você, talvez seja a melhor escolha do momento. Powell, em franca ascensão, mostra naturalidade ao aproveitar os trejeitos do Hangman de Top Gun: Maverick e compõe Tyler Owens como um sujeito pelo qual torcemos sem dificuldade alguma.

Já Anthony Ramos, outro que vem aparecendo em superproduções com cada vez mais frequência, aproveita para criar um personagem com mais camadas do que tempo de tela, o que prejudica seu arco dramático, mas não impede o filme de tocar em assuntos pertinentes, como a política de lucrar com a tragédia alheia. Vale a pena ficar ligado também na participação de David Corenswet, o futuro Superman. No entanto, o show é roubado pela ótima Daisy Edgar-Jones, atriz britânica que carrega todo o peso dramático da trama sem claudicar, por mais previsível que seja a jornada de superação encarada por Kate.

Ironicamente, o roteirista foge das armadilhas que costumam vir no pacote “rom-com” e resiste às tentações na hora de estabelecer o inevitável vínculo entre os meteorogistas (a sequência no aeroporto é apenas um dos acenos feitos por Mark L. Smith, que toma ciência das convenções, mas mantém uma distância segura). Por outro lado, os “respiros” representados pela aproximação entre Kate e Tyler talvez diminuam demais o ritmo e as piadas mal executadas devem provocar alguns bocejos antes de o terceiro ato finalmente irromper (e com os dois pés na porta).

O ápice de Twisters, que inclui algumas invencionices envolvendo os tornados, principalmente quando uma refinaria entra em cena, por mais grandioso que seja, acaba se apequenando diante da bem sacada homenagem feita às salas de cinema, que surgem como um refúgio para os amedrontados residentes de uma pequena cidade. Lutando para sobreviver num ecossistema cada vez mais convidativo ao entretenimento caseiro, o Cinema é, uma vez mais, reverenciado por uma superprodução hollywoodiana. Depois de Tom “Maverick” Cruise peitar os streamings e mostrar a força das salas de projeção, está na hora de Twisters, outra sequência tardia de um sucesso do século passado, nos relembrar do poder de uma experiência cinematográfica.


Um poder comparável apenas ao da Mãe Natureza, diga-se de passagem...


Observação: Há uma sequência durante os créditos finais.


NOTA 7

Comments


bottom of page
google.com, pub-9093057257140216, DIRECT, f08c47fec0942fa0