Todd Haynes brinca com as convenções do melodrama em 'Segredos de Um Escândalo"
Mestre no melodrama, influenciado por Douglas Sirk e R.W. Fassbinder, Todd Haynes, cineasta sempre disposto a experimentar (em maior ou menor grau), opera com liberdade absoluta para construir uma experiência de sensações extremas e, portanto, únicas.
A história é protagonizada por Elizabeth Barry (Natalie Portman), atriz que resolve passar uma temporada com Grace Atherton-Yoo (Julianne Moore), mulher que fez a alegria dos tabloides ao ser presa (aos 24 anos) por manter relações sexuais com um rapaz de 13 anos. A visita estendida tem um propósito: Um filme está sendo preparado para contar nas telonas o famigerado caso que foi de "amoroso" para "de polícia" em pouquíssimo tempo e Barry é quem dará vida à Grace. Para ilustrar a discrepância de idades, a roteirista Samy Burch faz questão de mostrar o jovem Joe (Charles Melton) dando conselhos ao filho, que está se preparando para a faculdade. Mas Elizabeth descobrirá que há muitos detalhes escondidos dentro desse escândalo midiático.
Para começar, a ideia de filmar o roteiro de Burch partiu diretamente de Portman, que não hesitou em comprar o roteiro assim que descobriu sua existência. May December (no original), serviria como a oportunidade perfeita para que a atriz israelense pudesse trabalhar com o diretor de Carol, Longe do Paraíso, Não Estou Lá e outras preciosidades. Haynes, no entanto, opta por uma condução diferente de tudo o que já fez. Ele abusa dos zooms dramáticos e a trilha sonora onipresente e ensurdecedora nos faz lembrar de que estamos diante de uma obra camp, isto é, que é exagerada e tem plena consciência disso, como fica claro no momento em que uma estupefata Julianne Moore exclama um "não temos salsichas suficientes!" ao abrir a geladeira, pronunciando sua fala como se estivesse anunciando uma tragédia.
O humor é recorrente, variando entre o famoso "rir de nervoso" (estamos diante de uma mulher que traiu o marido com o amigo do filho de 13 anos), o típico humor negro e o absurdo irresistível. É como se Haynes quisesse criar sua própria novela mexicana, condensando-a numa narrativa de quase 120 minutos que não passa um minuto sequer sem debochar do exagero sensacionalista que costuma rechear esse tipo de obra.
É curioso, no entanto, que no meio de duas das melhores atrizes em atividade (cada uma com um Oscar em sua prateleira), quem se destaque seja o jovem Charles Melton. O ator de 32 anos, mais conhecido como o Reggie da série Riverdale, surpreende ao revelar a faceta infantil de um homem atormentado por suas escolhas (repare como ele parece uma criança birrenta ao discutir com Grace). Isso não quer dizer que Portman e Moore não formem uma boa dupla, pois há talento demais envolvido para simplesmente desprezarmos a força da atuação de Melton.
O resultado é uma experiência irônica, debochada e que faz com que os espectadores se sintam culpados pelas gargalhadas que soltam. Já as cenas com as borboletas surgem como uma metáfora pouco sutil e até descartável do óbvio casamento entre Joe e Grace. Produção com cara de Oscar Bait (aquelas lançadas com o objetivo de arrebatarem os votantes da Academia), Segredos de um Escândalo pode até não ser o melhor filme de Todd Haynes, mas é, certamente, o mais divertido de sua carreira.
NOTA 7,5
*Crítica publicada durante o Festival do Rio 2023
Parabéns pela crítica.