"Te Peguei!" usa inusitada história real para combinar ação e gargalhadas
Um grupo de amigos que sempre brincam juntos resolvem fazer um pacto: Nunca parar de brincar. Afinal, como disse um filósofo, “nós não paramos de brincar porque envelhecemos. Nós envelhecemos porque paramos de brincar”. Assim, mesmo depois de adultos, casados, com filhos e morando longe uns dos outros, os amigos mantém a velha tradição de brincar de “tag” (o nosso tradicional pique-pega/pega-pega), só que com uma série de regras. A principal é que a brincadeira só é válida no mês de maio. O problema é que nesse grupo há quem nunca foi “pego”: Jerry (Jeremy Renner, o Gavião Arqueiro), motivando os outros a bolarem um plano para finalmente quebrarem essa longa “sequência invicta”.
Talvez o mais intrigante dessa história não seja a ideia em si (cuja intenção é até louvável), mas sim o fato de que tudo isso é verdade. Pois como ficamos sabendo assim que a projeção começa, o filme é “baseado numa história real”. História essa que foi relatada numa matéria do Wall Street Journal que foi buscar cada membro original do grupo a fim de mostrar essa loucura para o mundo.
Escrito por Rob McKittrick (A Hora do Rango) e Mark Steilen (da série Mozart in the Jungle), o roteiro coloca Annabelle Wallis (do desastre recente A Múmia) como a jornalista que decide acompanhar o grupo em sua empreitada, assumindo também a perspectiva do espectador, recebendo todas as informações necessárias. Essa função, aparentemente preguiçosa, logo é justificada à medida que a trama avança, comprovando que a intenção de Te Peguei! (ou Tag, no original) é ser algo além de uma simples comédia rasgada. E, de fato, consegue, pois o diretor Jeff Tomsic (estreante em longas) mostra talento também ao adicionar ação à mistura, fazendo da produção uma excelente combinação desses gêneros.
Claro que até mesmo a ação se rende ao humor, como fica claro nas várias sequências em que Jerry planeja escapar de ser pego, parodiando com eficácia o recurso utilizado em Sherlock Holmes (e copiado por O Protetor). Aqui, esse artifício conta com a participação de cada personagem envolvido, o que permite uma série de intervenções bem humoradas. Além disso, os planos do quarteto de amigos são um show à parte e envolvem disfarces e uma infinidade de referências a clássicos da cultura pop, como Matrix (minha favorita), O Show de Truman e Predador.
Encabeçando o elenco principal, o Hoagie de Ed Helms (o eterno Stu de Se Beber, Não Case) equilibra-se com segurança entre a obsessão e a lucidez, divertindo não apenas através do humor físico que as sequências demandam, mas também com seu carisma habitual. Jon Hamm (Baby Driver - Em Ritmo de Fuga), famoso pelos papéis mais viris, tem a oportunidade de exibir seu bom timing cômico como o excessivamente confiante Bob Callahan, ao passo que Hannibal Buress (Baywatch – S.O.S. Malibu), como o paranoico Fumaça e Jake Johnson (também do catastrófico A Múmia), como o maconheiro Chilli, brilham no elenco de apoio. Fechando o elenco, Jeremy Renner diverte-se a valer ao investir na persona adquirida como o Gavião Arqueiro e converter seu Jerry numa espécie de especialista em fugas, saindo-se admiravelmente bem nas sequências de ação e demonstrando química com os demais atores.
Química, vale ressaltar, é a palavra-chave de Te Peguei!, pois caso o elenco não demonstrasse entrosamento em cena, tudo certamente iria pelos ares. Felizmente, é exatamente o oposto que acontece, corroborando o discurso do filme sobre a amizade, mesmo que aqui e ali note-se uma certa pieguice. Como se não bastasse a mistura eficiente de ação coreografada com humor escrachado, o filme ainda tem o diferencial de deixar a habitual escatologia tão presente em comédias recentes (como Baywatch e Meu Ex é um Espião), para transmitir uma mensagem que jamais deveria ser esquecida.
E mesmo que ao final acabe recorrendo a soluções extremas que evidenciam a preguiça dos roteiristas em encontrar um encerramento plausível para a narrativa, Te Peguei! é um filme simples, direto e extremamente eficaz em seu propósito de apresentar uma história tão competente em provocar o riso como em promover uma reflexão. E as ótimas sequências de ação são um bônus desse pacote.
Observação: Jeremy Renner volta a mostrar seus dotes musicais durante os créditos.
NOTA 8
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