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Foto do escritorGuilherme Cândido

"Super Mario Bros." oferece aventura divertida e recheada de agrados aos fãs


Se hoje ainda jogo videogame, muito devo a este encanador bigodudo com sotaque italiano que finalmente está ganhando um filme à sua altura. Pois foi Mario quem me abriu as portas para o mundo dos games através do cartucho Super Mario Bros. que eu ocasionalmente tinha de assoprar para fazê-lo funcionar. O Super Nintendo foi o console que mais joguei e o Nintendo 64 permanece como o meu favorito até hoje. Portanto, Mario, Luigi, Yoshi e companhia sempre foram figuras muito queridas e vê-los numa adaptação cinematográfica foi um desejo do qual me arrependi amargamente ao testemunhar a bizarra versão live-action com Bob Hoskins, John Leguizamo e Dennis Hopper na década de 90.

Agora com o envolvimento da Nintendo, desenvolvedora dos jogos e criadora dos personagens, Mario e sua turma estão de volta aos cinemas, mas do jeito certo, com uma animação feita sob medida para aquecer o coração dos fãs (novos e antigos). Em parceria com a Illumination, divisão de animação da Universal, a gigante dos games não abandonou sua diretriz de focar todas as atenções na experiência, pois, na realidade, nunca deu muita atenção para a história que viria a ser contada. Se no videogame, a Nintendo reina absoluta ao confiar na força de seus personagens, no Cinema ela acaba precisando de uma forcinha do estúdio. Pena que não se trata da Pixar...

Fica claro que toda vez que o filme depende dos recursos da Illumination, a história acaba recaindo na banalidade, investindo em artifícios batidíssimos como cenas em câmera lenta (com os personagens gritando com a voz grave) e referências à cultura popular, especialmente musicais, repetindo a estratégia da franquia Meu Malvado Favorito ao aproveitar faixas de bandas famosas como A-ha e AC/DC, sendo também a segunda produção de 2023 a trazer a canção “I Need a Hero” embalando um momento... heróico (Shazam! – Fúria dos Deuses também utilizou o recurso, mas de forma ainda mais óbvia). Por outro lado, sempre que os esforços estão concentrados nos personagens, o filme ganha vida.

Os enxutos 92 minutos de projeção passam voando com uma história que se desenvolve a base de um ritmo acelerado, mantendo seus personagens sempre em movimento. Combinando ação e bom humor, Super Mario Bros. se apresenta como uma aventura para toda a família, não apenas em função dos easter eggs (dos quais falarei mais adiante), mas também por incluir piadas para os mais diversos públicos-alvo. Há por exemplo uma figura divertidíssima e que rouba a cena, apresentando-se como uma pequena criatura que emana luz, mas que se revela extremamente desesperançosa. Com pérolas hilárias, trata-se de um pessimista nato do tipo que encara a morte como “misericórdia”, reconfortando-se em meio ao desespero de seus colegas.

Inversamente proporcional ao divertimento, é a profundidade da história concebida por Matthew Fogel (Minions 2: A Origem de Gru). Não espanta que a trama seja tão rasa, afinal, os próprios games sempre se preocuparam mais com o entretenimento do jogador, o que é normal para a mídia referida, mas o que salta aos olhos é a forma rústica com que o roteirista aparentemente cumpre pré-requisitos oferecidos pela Nintendo para agradar aos fãs.

Afinal, a principal função que Fogel parece exercer é encontrar desculpas para unir nas telas os principais cases de sucesso da desenvolvedora. Assim, logo depois de visitar o reino de Donkey Kong (com direito a referência direta ao jogo de Nintendo 64), Fogel improvisa um subterfúgio para introduzir... Karts, inundando as telas com tsunamis de easter eggs, sempre apelando para o emocional do espectador. A diversão, claro, compensa a superficialidade do trabalho de Fogel, mas fica a torcida para que a iminente continuação mostre um grau maior e bem-vindo de ambição, pois com uma trama tão interessante e cativante quanto seus personagens, o potencial é ainda maior. Enquanto isso, invocando a nostalgia, este primeiro filme entra em campo com o jogo ganho.

Fogel até tenta explorar o relacionamento de Mario e Luigi e é justamente nesse ponto que a influência da Nintendo no processo criativo soa mais evidente. Enquanto o roteirista se mostra pouco hábil para ir além do básico na relação entre os irmãos (descambando para o melodrama no ato final), é inegável que ao preservar a identidade de seus personagens, a produção revela seu maior trunfo. Por mais que a trama seja banal e até rústica em sua estrutura, é graças a figuras tão carismáticas e queridas que o filme se sustenta, cativando o espectador do início ao fim.

Mario, por exemplo, é desenvolvido com extremo cuidado. Caso fosse trabalhado exclusivamente pela Illumination, responsável por algumas das animações mais rasteiras (e lucrativas) da atualidade, o encanador provavelmente seria encarado como fonte de piadas ou um mero super-herói, mas a participação da Nintendo garante a ele traços que facilitam a identificação com o espectador. Embora seja ridicularizado por seus pares, Mario é um sujeito determinado e que busca sempre fazer o que é certo. E mesmo quando as coisas dão errado, ele jamais é o culpado, pois o filme é inteligente ao não questionar suas habilidades. Não é à toa que a narrativa dedica um tempo precioso mostrando-o treinando antes de embarcar na jornada pelo resgate de Luigi.

E se você, como eu, também jogava Super Mario Bros., também deve estar estranhando a motivação de Mario, pois seu objetivo costumava ser salvar a princesa Peach e não o irmão (que inclusive também participava da ação). Aqui, o roteiro deixa de lado o estereótipo de donzela indefesa e coloca a princesa para ser a parceira do herói, relegando Luigi à função de prisioneiro, mas não se preocupe, pois ele será importante no final do filme, com surpresas que obviamente não revelarei. Bowser é outro que recebe atualizações, tornando-se mais interessante graças a suas intenções com Peach, protagonizando momentos divertidíssimos ao extravasar sua paixão por ela.

O que nos leva à verdadeira enxurrada de easter eggs promovida pela produção. Ao aceitar levar seus personagens para as telonas, a Nintendo não foi nada boba, pois certificou-se de aproveitar o longa-metragem para referenciar seus jogos mais recentes a fim de ampliar seus jogadores. Sobram momentos em que o Mario de games premiados recentemente como Odissey e Galaxy, é visto em trajes de gato e guaxinim, por exemplo, mas os fãs menos jovens podem ficar tranquilos, pois também são contemplados.

As crianças (potenciais novos clientes) são a prioridade e enchem o primeiro plano, mas há alguns detalhes sutis que só os espectadores mais velhos irão captar. Repare por exemplo no efeito sonoro que acompanha os feitiços do Koopa Mágico, simplesmente o mesmo utilizado no Mario de Super Nintendo. Esse é apenas um aceno a nós veteranos da franquia no meio de um mar de easter eggs que incluem koopas, oompas, bombas, peixes, fantasmas e uma infinidade de elementos retratados com absoluta fidelidade.

Contando com uma animação um pouco acima dos padrões da Illumination, principalmente em função dos traços dos personagens, Super Mario Bros. – O Filme investe em cenários sempre coloridos (alguns inspirados nas montanhas flutuantes de Avatar) e com uma paisagem sonora rica em detalhes, beneficiando-se do ótimo trabalho do compositor Brian Tyler (da franquia Velozes e Furiosos), que mergulha de cabeça nas melodias clássicas criadas por Koji Kondo, que por sua vez surgem em diversos momentos e das mais variadas formas. Inclusive, os fãs do japonês são imensamente recompensados durante os créditos finais, quando algumas de suas composições que ficaram de fora do filme são aproveitadas. Eu também não poderia deixar de comentar uma piada inspiradíssima envolvendo Donkey Kong e que remete à clássica frase “tire suas patas sujas de cima de mim” presente no Planeta dos Macacos com Charlton Heston. Pois não só de games vivem as referências da produção, afinal.

Dinâmico, absolutamente divertido e indicando um futuro promissor para inevitáveis continuações, Super Mario Bros. – O Filme é tudo aquilo que se espera: um prato cheio para fãs de todas as idades, proporcionando momentos de puro deleite nostálgico, mesmo que não conte com o mais criativo dos roteiristas.


NOTA 7,5


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