Projeto James Bond #14: 007 Na Mira dos Assassinos (1985)
007 Na Mira dos Assassinos
(A View to a Kill, 1985)
Roger Moore já havia passado dos 58 anos quando seu 007 entrou na mira dos assassinos uma última vez em 1985. Foram treze anos a serviço secreto de sua majestade e o que mais filmes estrelou para a EON, dona dos direitos da franquia. A contragosto, pois 1981 era para ser lembrado como seu canto do cisne, despedindo-se honrosamente com o bom 007 O Espião Que Me Amava, mas quis o destino (e uma celeuma que foi parar nos tribunais) que ele voltasse para outras duas missões, tornando-se o único a ter estrelado sete filmes da série (um a mais que Sean Connery) e também o mais velho. Apesar dos altos e baixos que acometeram a série após a saída de Connery (que também não estava em grande fase quando deixou o papel), Moore sai de cabeça erguida, com um filme que pode até estar ligeiramente abaixo de sua estreia como Bond, mas que representa uma bem-vinda evolução perante 007 Contra Octopussy, o famigerado longa-metragem anterior.
Terceiro 007 seguido a ser dirigido por John Glen, mão de obra contratada para acelerar a produção da série a nível industrial, 007 Na Mira dos Assassinos escancara na tela o esforço hercúleo de uma equipe para encontrar novas formas de explorar a Fórmula Bond, frequentemente recorrendo a artifícios familiares como a boa e velha perseguição na neve, mas com toques pouco usuais e a escolha de uma canção dos Beach Boys para acompanha-la é uma das formas encontradas para desviar a atenção do espectador do iminente déjà vu. Cabe uma menção honrosa à pequena participação de Dolph Lundgren na cena do estábulo, numa de suas primeiras incursões no Cinema cinco meses antes de despontar como o Ivan Drago de Rocky IV
Pesa a favor da história que a tal perseguição aconteça logo no início e sirva como deixa para uma das melhores canções de abertura da série. Ciente da despedida de seu astro, a produção não mediu esforços para trazer o Duran Duran no auge de sua popularidade, dando um ar moderno e dançante aos créditos iniciais, mas sem descambar para o pop rasgado (vide a desastrosa faixa de 007 Contra o Homem Com a Pistola de Ouro), investindo numa milionária composição que ainda se beneficiou do arranjo inspirado do compositor John Barry (com notas da trilha de 007 A Serviço Secreto de Sua Majestade, seu melhor trabalho). Não por acaso, “A View to a Kill” foi a primeira música-tema de um filme da série a alcançar o topo mundial das paradas de sucesso e permanece como uma das mais queridas dos fãs da banda britânica.
Mesmo que a ação não decepcione, a franquia demonstra mais dificuldades que o habitual para impressionar, salpicando perseguições e lutas que oferecem uma carga apenas adequada de adrenalina, com exceção de dois momentos completamente diferentes em tom, pois enquanto as cenas que se passam no interior de um elevador coberto de chamas merecem elogios pela complexidade com que são elaboradas (se fizermos vista grossa para a relação de dois personagens com o fogo), a perseguição de viaturas policiais a um caminhão dos bombeiros poderia facilmente ter saído da cinessérie Loucademia de Polícia, com agentes que só não são mais caricaturais do que o J.W. Pepper das duas primeiras aventuras estreladas Roger Moore.
Moore, aliás, mostra que deveria mesmo ter pendurado a Walther PPK quatro anos antes, quando ainda não acusava a idade. Fisicamente mais fragilizado (note a determinação dos câmeras em não mostrá-lo sem camisa) e com o rosto claramente envelhecido, James Bond executa peripécias que já não condizem com seu estágio de vida, tornando difícil acreditar que um quase sessentão fosse capaz de agir com tanta energia e destreza, isso para não falar do magnetismo enlouquecedor que segue tendo perante as jovens mulheres.
Já no quesito bond girl, não resta dúvida de que Tanya Roberts (a Julie Rogers de As Panteras) é a mais fraca a atuar com Roger Moore, com uma performance que só deve ser lembrada por testar a potência sonora do filme com seus gritos de “James” (confesso que a certa altura da projeção comecei a torcer para que Bond finalmente perdesse a paciência e desistisse de salvá-la). Mesmo diante da modesta função de donzela indefesa pronta para ser resgatada mil vezes pelo agente secreto, Roberts fracassa retumbantemente e nem sua beleza serve para compensar o papel decepcionante.
Nada decepcionante, porém, é a jamaicana Grace Jones, primeira mulher a atuar como capanga na série e uma das mais memoráveis, por sinal. Com uma aparência andrógina que comporta o misto de força e prepotência que acompanha sua performance, Jones faz um par perfeito com Christopher Walken, brilhante ao interpretar Max Zorin como o típico psicopata que se tornaria sua especialidade. Carismático, Walken não tem dificuldade em fazer do vilão uma figura irresistível, algo facilitado pelas motivações menos extravagantes concebidas pelo roteiro. Ele não quer dominar o mundo, apenas ficar com o monopólio do mercado de microchips após provocar um terremoto no Vale do Silício. O que permite à série recorrer à pouco badalada San Francisco para posicionar seu terceiro ato, logo após sequências que extraem todo o potencial de Paris (é claro que há uma sequência de ação em plena Torre Eiffel).
Despedindo-se de James Bond juntamente com Lois Maxwell (a Moneypenny de todos os filmes até então) com uma boa imagem deixada para os espectadores, Roger Moore não chegou a fazer promessas raivosas como Sean Connery, que jurou jamais voltar e todos sabemos o que aconteceu, e talvez por isso deva ter deixado um gostinho de quero mais em seus fãs, que esperaram pelo seu retorno, mas tiveram de se contentar com Timothy Dalton, a bola da vez, mas que durou apenas duas produções.
NOTA 6
Gostei. Seus comentários batem .