Projeto James Bond #04: 007 Contra a Chantagem Atômica (1965)
007 Contra a Chantagem Atômica (Thunderball, 1965)
Iniciando a projeção com uma sequência de ação que termina com Bond fugindo de mochila a jato, 007 Contra a Chantagem Atômica diverte-se com a possibilidade de esporadicamente desprender-se da realidade, algo que se concretizaria em pouco tempo.
Assumindo a ingrata responsabilidade de suceder à Shirley Bassey, que impressionou o mundo com a inesquecível “Goldfinger”, Tom Jones faz o que pode com a canção “Thunderball”, eficiente, mas bem abaixo de sua antecessora, refletindo o próprio filme quando comparado ao ótimo 007 Contra Goldfinger.
Thunderball (no original) também marca um surpreendente regresso no desenvolvimento de James Bond como personagem: se Sean Connery vinha de três acertos seguidos, apresentando performances cada vez melhores e enriquecendo sua composição como Bond, neste quarto filme ele atua no limite do piloto automático, transformando o espião em pouco mais do que um rufião, o que se torna uma verdadeira dor de cabeça quando lembramos de sua relação com as personagens femininas que cruzam o seu caminho. O James Bond que antes era meticuloso e determinado agora parece pensar apenas em sexo.
Com isso, o roteiro pesa a mão nos galanteios do agente secreto, investindo em piadas mais maldosas do que o normal e fortalecendo os argumentos de quem o acusa de misoginia. Há uma insistência alarmante já em sua primeira interação com uma mulher, por exemplo, e a produção parece considerar divertido aumentar o número de moças que sucumbem à libido excessiva de Bond. Se antes 007 incomodava por apresentar jovens que se resumiam a meros instrumentos utilizados por Bond, Thunderball beira o patético ao mostrar bond girls se atirando aos pés de James Bond sem a menor reserva. O excesso também pauta o desenvolvimento da história, pois os roteiristas Richard Maibaum (veterano da franquia) e John Hopkins costuram uma trama que depende de coincidências para funcionar. E são tantas que eles mesmos acabam fazendo piada com isso, colocando James Bond ao lado de uma bond girl reconhecendo um acaso (“que conveniente!”).
Com a ótima Pussy Galore fresca na memória dos espectadores, o desafio de aumentar a galeria já respeitável de bond girls parece que foi grande demais. Investindo na quantidade ao invés da qualidade, a produção pode até ter mantido a tradição de escalar belas mulheres, mas o roteiro infelizmente não oferece material suficiente para que elas possam trabalhar. Não bastassem os problemas já mencionados sobre superficialidade e a ninfomania de James Bond, as bond girls de 007 Contra a Chantagem Atômica são esquecíveis, com a Domino da parisiense Claudine Auger mostrando mais estilo do que conteúdo, ainda que tenha algum destaque no clímax quando seus problemas de relacionamento com o vilão Largo são resolvidos de forma pouco pacíficas.
Exibindo o visual estilizado que se tornou a marca registrada dos vilões de 007, Emilio Largo é vivido pelo siciliano Adolfo Celi com discrição, permitindo que suas atitudes falem por si. Um mero funcionário da SPECTRE cumprindo sua missão, ele não precisa se entregar a rompantes de fúria e planeja cuidadosamente cada passo dado, pois está ciente das intenções de James Bond, mantido sempre à vista. Em contrapartida, seu excêntrico costume de manter uma piscina cheia de tubarões promete mais do que cumpre, já que há apenas dois momentos que aproveitam os animais e ambas são insuficientes.
Apresentando os melhores efeitos visuais de toda a série (tanto que renderam um Oscar à produção), são as sequências subaquáticas que acabam chamando mais atenção. Mas se a equipe técnica merece todos os elogios pela ousadia, o resultado é definido por longas tomadas montadas de forma confusa, resultando num aglomerado de cenas onde vemos um monte de personagens (com figurinos idênticos) se engalfinhando, mas não temos ideia de quem sejam (com exceção de Largo, facilmente identificável graças ao cabelo grisalho). E como são passagens com poucos efeitos sonoros, elas acabam dependendo demais da trilha sonora, por sorte mais um bom trabalho de John Barry.
É curioso, no entanto, que apesar de ter mirado tão alto, com sequências de ação ambiciosas, os maiores acertos do filme sejam justamente aqueles envolvendo elementos já conhecidos ou menores, como a relação entre Bond e Q, resumida através da hilária reação do espião ao vê-lo (“Ó não...”). Vestindo roupas informais, ignorando o fato de estar em missão pela primeira vez, o Quartermaster surpreende não apenas o público, mas principalmente James Bond, estabelecendo de vez uma dinâmica divertida guiada pelo contraste de pensamento entre eles, pois Q não esconde sua insatisfação diante da desfaçatez com que o espião trata seu trabalho, por mais estapafúrdias que sejam as engenhocas que cria. Outro ponto positivo é a sequência em que Bond comparece a uma reunião com M e os agentes 00 que atuam na Europa, revelando um pouco mais sobre a estrutura do MI6, além de mostrar o número baixo de espiões (nove).
Inegavelmente divertido, mas representando uma queda considerável em relação aos filmes anteriores, 007 Contra a Chantagem Atômica é o início de uma era marcada pela irregularidade, fruto do inevitável colapso de uma equipe esgotada por ter entregue quatro superproduções em quatro anos.
NOTA 6,5
Concordo com a sua avaliação.