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Foto do escritorGuilherme Cândido

Projeto James Bond #03: 007 Contra Goldfinger (1964)

007 Contra Goldfinger (Goldfinger, 1964)


Após esboçar em 007 Contra o Satânico Dr. No alguns elementos que viriam a ser postos à prova em Moscou Contra 007, o roteirista Richard Maibaum, dessa vez acompanhado de Paul Dehn (que posteriormente ganharia o Oscar pelo roteiro de Assassinato no Expresso do Oriente), sente-se livre para potencializar todos os acertos que consagraram o filme anterior, concebendo o que viria a ser o modelo definitivo da série, com marcas registradas como a clássica apresentação de James Bond, o carro cheio de surpresas, o capanga peculiar, e vários tropos (a sequência pré-créditos, a animação de abertura, a Bond Girl suspeita, as perseguições).


Dando um espaço ainda maior para o humor, destacando-se o momento em que M, numa sala cheia de funcionários do governo, fica em maus lençóis ao grampear Bond, é Sean Connery quem acaba se saindo melhor, ao encerrar quase todas as sequências de ação com uma frase de efeito mais divertida que a outra (e sua fala depois de matar um inimigo eletrocutado é uma de minhas favoritas de toda a série). Além disso, Connery, transformado em estrela mundial graças ao sucesso estrondoso do filme anterior, está mais à vontade do que nunca, mostrando estar em sua melhor forma ao atingir um equilíbrio imbatível na composição da personalidade de Bond.

Moldado como um típico arrasa-quarteirão, 007 Contra Goldfinger é uma produção claramente focada na ação e não decepciona, mesmo que o diretor Guy Hamilton demonstre não ter a mesma destreza de Terence Young, que comandou os dois filmes anteriores. Em compensação, Hamilton é auxiliado por um orçamento ainda mais robusto, permitindo-lhe investir numa extraordinária perseguição onde o clássico Aston Martin de James Bond, dando as caras pela primeira vez, rouba a cena com seu extravagante poder de fogo.

Já o compositor John Barry consegue a proeza de superar seu trabalho anterior ao lapidar o tema principal com arranjos de “Goldfinger”, canção que ele mesmo compôs e que, por sinal, é a primeira a finalmente embalar os créditos iniciais de um filme de 007. E na voz poderosa de Shirley Bassey, a música imediatamente virou referência para os demais filmes, estabelecendo um patamar que mesmo sendo almejado por 50 anos ainda não foi alcançado.

Mostrando evolução ao amenizar o aspecto misógino intrínseco às histórias da franquia, 007 Contra Goldfinger apresenta uma de suas mais formidáveis Bond Girls: Pussy Galore (Honor Blackman) alia beleza e inteligência, revelando-se mais do que um interesse amoroso ao se estabelecer como a antítese de suas predecessoras em termos de atitude, já que se orgulha em dizer ser “imune” aos encantos de James Bond, embora inevitavelmente se contradiga. E se o capítulo anterior trouxe a Bond Girl mais jovem de todas (Daniela Bianchi tinha 21 anos), Goldfinger seguiu o caminho oposto, fazendo de Honor Blackman, de 39 anos, a mais velha.

Da mesma forma, Auric Goldfinger é interpretado pelo alemão Gert Fröbe como um vilão de pensamento prático, exibindo a ganância como principal característica. Inteligente e visualmente distinto, mesmo sem qualquer tipo de cicatriz ou modificação corporal, Goldfinger também é favorecido pelo carisma de Fröbe, entrando forte na disputa pelo título de melhor adversário de James Bond. A propósito, ele também tem a sorte de participar de um dos diálogos mais célebres da franquia quando Bond, ao ser ameaçado, pergunta “você espera que eu fale?”. “Não, Sr. Bond, eu espero que você morra!”, responde o vilão.

Primeiro grande capanga da série, Oddjob estabelece um padrão para seus sucessores: portador de um estilosíssimo chapéu que funciona como um frisbee letal, ‘Faz-Tudo’ (em tradução livre) é carismático, mas também ameaçador, pois além de sua arma singular, exibe um físico imponente e intimidador o bastante para desafiar Bond. A entrada de Oddjob na história, diga-se de passagem, com sua sombra indefectível antecipando um crime, é certeira ao elevar as expectativas sobre o personagem.

No entanto, por mais descolado que seja, 007 Contra Goldfinger não consegue replicar o bom ritmo da aventura anterior, especialmente por conta da equivocada opção por manter Bond preso em grande parte do tempo, mesmo que alcance alguns bons momentos (como sua inusitada fuga). Outrossim, o flerte com a fantasia é realçado pelo clímax, sugerindo uma perigosa tendência da franquia e que seria consumada nos filmes seguintes, principalmente aqueles protagonizados por Roger Moore.

007 Contra Goldfinger é o filme responsável por consolidar a marca da série, instituindo uma fórmula que se provaria tremendamente bem sucedida ao manter James Bond no topo por invejáveis 50 anos. Outro queridinho do público, incluindo o cineasta Steven Spielberg e os ex-protagonistas Pierce Brosnan e George Lazenby, essa terceira aventura conseguiu manter o alto nível alcançado por Moscou Contra 007, encerrando a chamada ‘Era de Ouro’ do espião britânico.


NOTA 8,5


1 Comment


Jnei Cândido
Jnei Cândido
Mar 22, 2023

007 contra Goldfinger foi o que mais gostei .Muito bom . Concordo com os seus comentários


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