Pets utiliza Toy Story para homenagear os melhores amigos do Homem
Em determinado momento da projeção de Pets – A Vida Secreta dos Bichos, um grupo de animais dirige-se a um sofisticado apartamento em busca de informações sobre o sumiço de um amigo canino, mas ao chegar lá, o que encontram é uma verdadeira festa de arromba com as mais variadas espécies domésticas convidadas pelo poodle Leonardo, que aproveita como poucos a ausência de seu discreto dono.
Essa sequência ilustra bem o tom da narrativa, que usa o inusitado para subverter as expectativas. E esse espírito anárquico é a grande atração do projeto, cuja simplicidade técnica segue os mesmos moldes de outras produções do estúdio, como Meu Malvado Favorito e Minions.
Escrito por Cinco Paul, Ken Daurio e Brian Lynch (a mesma equipe de Meu Malvado Favorito), o roteiro narra a história do terrier Max, cuja vida perfeita ao lado de Katie, sua dona, está ameaçada depois que ela resolve adotar o grandalhão Duke. Porém, ao se perderem durante um passeio no parque, os dois precisam unir forças para voltarem para casa antes que Katie perceba sua ausência. Enquanto isso, a cadelinha Gigi mobiliza uma improvável força tarefa para tentar encontrar o amigo Max.
Como é possível perceber, os animais de estimação têm, em segredo, uma vida bastante atribulada na ausência dos humanos, um conceito que os roteiristas pegam emprestado do inesquecível Toy Story, apenas substituindo brinquedos por animais. Apesar de não ser original, a ideia é interessante e funciona, sendo muito bem explorada durante o primeiro ato do filme, que constrói uma divertida sequência para apresentar os personagens ao mesmo tempo em que ilustra o que cada um faz quando está sozinho em casa.
Infelizmente, porém, a criatividade do projeto não se estende a sua trama, pois o trio de roteiristas recorre a uma série de clichês para pavimentar o rumo da narrativa, que ainda usa a velha convenção “inimigos que se tornam amigos quando se unem para alcançar um objetivo em comum”.
Com isso, o filme se torna previsível e até irritante em alguns momentos, como na cena envolvendo a visita de um personagem até a casa de um antigo dono, forçando um conflito puramente artificial. Os diretores Chris Renaud e Yarrow Cheney também não conseguem esconder as fragilidades da narrativa.
Parecendo reconhecer os problemas do roteiro, porém, a dupla de diretores ao menos é inteligente o bastante para desviar a atenção do espectador que se vê envolvido em meio ao frenesi da história. Sempre reservando espaço para a comédia, os cineastas também são hábeis ao pontuarem a narrativa com ótimas sequências de humor físico, e ainda esbanjam imaginação, ao sugerirem, por exemplo, como são criados os vídeos de animais que tanto aparecem no YouTube.
Tecnicamente competente, mas nada impressionante, Pets também apresenta um bom uso da tecnologia 3D: ainda que não exiba avanços em termos de linguagem, o recurso deve divertir os mais novos, com direito a vários objetos e personagens se projetando na direção do espectador.
As crianças também deverão aprovar o belo trabalho de dublagem da versão brasileira, que conta com as colaborações de Danton Melo (Max), Tiago Abravanel (Duke), Tatá Werneck (Gigi) e Luís Miranda, que se destaca como o coelho Bola de Neve.
Encerrando a projeção com uma trivial mensagem de superação e uma esperada ode aos animais, Pets – A Vida Secreta dos Bichos é desajeitado como um cachorro São Bernardo, previsível como o encontro de um gato e um canário, e adorável como qualquer filhote.
NOTA 6,5
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