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"Parthenope: Os Amores de Nápoles" é mais um conto belo e vazio de Sorrentino

  • Foto do escritor: Guilherme Cândido
    Guilherme Cândido
  • 25 de mar.
  • 3 min de leitura

Atualizado: 26 de mar.


*Filme visto durante o Festival do Rio 2024


Afeito a narrativas grandiosas, o cineasta italiano Paolo Sorrentino (figurinha carimbada no Festival do Rio) usa o mito de Parténope para criar mais uma carta de amor à Nápoles disfarçada de filme, que por sinal é a desculpa perfeita para a concepção de uma experiência calcada na beleza da imagem. Partenope, na mitologia grega é uma das sereias originais, sendo responsável pela fundação da cidade homônima e que mais tarde seria rebatizada como “Neápolis” (Cidade Nova), hoje conhecida como Nápoles.


No filme atualmente em exibição no Festival do Rio, Sorrentino traz a sereia para o mundo moderno, mais precisamente 1950, quando nasce nas águas aquela que viria a enlouquecer os homens apenas com sua beleza, dispensando os cânticos. Aliás, a inspiração para por aí, já que não há aproximação com o surreal e tampouco o lúdico. Na imaginação do cineasta vencedor do Oscar, Parthenope é ainda mais inteligente do que bela, e sua curiosidade a leva inevitavelmente para o mundo acadêmico, onde é apresentada ao rabugento professor Marotta (Silvio Orlando, magnífico como sempre). Ele é uma das poucas pessoas imunes ao encanto da moça, negando-se até mesmo a tirar sua maior dúvida: O que é a Antropologia? Experiente e brilhante, ele sabe que privá-la do significado, estimulará a busca com suas próprias ferramentas. E é exatamente o que ela faz.

Paolo Sorrentino, porém, parece preso no limbo entre dois de seus três últimos longas, A Juventude (2013), A Grande Beleza (2013) e A Mão de Deus (2021). Deste último, o mais passional (e meu favorito) de sua carreira, reutiliza o amor pelo Napoli (seu clube de coração) e compõe a personagem central com os temas dos dois filmes restantes. Juventude e beleza parecem a maior obsessão de um cineasta avesso a histórias lineares, flutuando pelo tempo enquanto explora ao máximo as paisagens napolitanas.

Celeste Dalla Porta debuta nos cinemas encarnando uma armadilha para qualquer atriz, pois a ânsia do diretor e roteirista italiano em cobrir Parthenope com o véu do mistério, acaba por torná-la oca, uma entidade que atravessa o tempo apenas para acumular conhecimento e enfeitiçar os homens. E o fato de demorar décadas para começar a envelhecer, só reforça o caráter mítico da personagem, que no final revela ser tão mundana como qualquer outra. Aparentemente, quando atingimos uma certa idade, perdemos a beleza e isso, para Sorrentino, se você for uma mulher bem-dotada nesse aspecto, significa que você também perde o interesse dele.

Como em todo trabalho assinado pelo diretor, o design de produção é um luxo à parte, com cenários grandiosos, bem-acabados e valorizados por uma fotografia solar. Nápoles é uma personagem por si só, servindo como musa ao ceder suas incontáveis belezas naturais para a câmera apaixonada de Sorrentino, que não hesita em se referir à cidade como “a mais bonita do mundo”.

A participação mais que especial de Silvio Orlando soa até irônica quando nos damos conta de que Parthenope é tudo aquilo que seria reprovado por seu Professor Marotta. Uma divagação longa e superficial, ainda que estonteante como sua protagonista, que se preocupa mais em gritar pérolas de sabedoria ao invés de buscar algum tipo de conexão entre si capaz de justificar o envolvimento do espectador. Ou será que Paolo Sorrentino realmente achou que objetificar sua estrela seria o bastante para hipnotizar o seu público?


NOTA 5,5


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