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'Os Radley' desperdiça potencial em trama esquizofrênica

  • Foto do escritor: Guilherme Cândido
    Guilherme Cândido
  • 27 de fev.
  • 2 min de leitura


Os Radleys são uma família comum que vive pacatamente no subúrbio. Peter (Damian Lewis, da série Homeland), o patriarca, é um médico respeitado, Helen (Kelly MacDonald, de Passei Por Aqui), uma dona de casa bem inserida na vizinhança, enquanto Clara (Bo Bragason, a Roxy de Nell) e Rowan (Harry Baxendale, o Forich de Sombra e Ossos), os filhos do casal, não passam de adolescentes comuns lidando com os desafios do crescimento. Nada de extraordinário, mas eles escondem um segredo: são todos vampiros tentando viver discretamente entre os mortais.


Embora não estejam no auge da popularidade, os vampiros nunca saíram de moda, atravessando fases sem desaparecerem por completo. Mesmo que Renfield e Nosferatu mantenham o nicho alimentado, tratam-se de remakes, o que também reflete a falta de imaginação vindo de uma indústria cinematográfica em baixa, regurgitando produtos na esperança de manter o público no horizonte. Os Radley, longa-metragem assinado por Euros Lyn (um dos diretores da série Heartstopper) , já tem sua originalidade posta em cheque quando percebemos ser uma adaptação do livro escrito por Matt Haig, cujas ideias, francamente, talvez funcionem melhor na Literatura.

Pois o que chega às telonas brasileiras neste final de semana é um amálgama de gêneros e convenções desajeitadamente postos a serviço de uma história que jamais encontra o tom certo. O roteiro assinado pela novata Talitha Stevenson assume a premissa de uma comédia de humor negro, mas sofre para provocar gargalhadas. Quando salta para o terror, mostra-se inofensivo e se sai ainda pior ao manusear os elementos da mitologia vampírica.

Como uma metáfora do próprio filme que escreve, Stevenson acolhe e rejeita mitos de forma completamente arbitrária. Ora, por qual motivo alhos funcionam, mas a ausência de reflexo “é mentira”, como alguém deixa claro? Sendo assim, estacas continuam sendo instrumentos mortais? E quanto a exposição à luz solar? Quais são as regras, afinal? O texto só aproveita o que lhe interessa, claro, e no momento mais conveniente.

Inconveniente é a forma com que a produção descarta boas alegorias dispostas a partir da necessidade primária dos vampiros, que pode ser um vício (logo, um signo para a dependência química), o resultado de uma doença hereditária ou, até mesmo, um paralelo com o despertar queer, numa subtrama pronta para render um filme infinitamente mais interessante, mas que infelizmente jamais assistiremos.

Se há algum entretenimento propiciado por Os Radley é poder ver Damian Lewis divertindo-se ao diferenciar os dois papéis que interpreta. Talentoso, ele só precisa de alguns maneirismos e uma atenção maior à linguagem corporal para compor Pete, o reprimido pai de família, e Will, o rebelde com pinta de roqueiro e intenções para lá de obscuras. Quem sofre mesmo é MacDonald, que pouco tem a fazer diante da inércia do roteiro em relação ao arco de sua personagem. Dos mais jovens, Harry Baxendale evoca doçura ao trabalhar a melhor ideia do filme, mas é sabotado pelo desinteresse dos realizadores (a desfaçatez é tanta, que a mudança experimentada por Rowan é “sublinhada” por seu corte de cabelo e nada mais).


Previsível, tematicamente esquizofrênico e frustrante por não desenvolver seus pontos fortes, Os Radley é como uma nau cujo comandante parece estar perdido por pura incompetência, sendo incapaz de enxergar à sua volta as inúmeras ilhas nas quais poderia ancorar.


NOTA 4

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