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Foto do escritorGuilherme Cândido

Megalomaníaco Valerian não vai além do escapismo

Estreando no Cinema em 1983 com O Último Combate, o cineasta francês Luc Besson nunca escondeu seu apreço pelo popular filão dos “filmes-pipoca”. E antes de aparecer para o mundo em 1990 com o seu impactante La Femme Nikita (ou Nikita – Criada Para Matar, como ficou conhecido por aqui), realizou obras menores como o bom Subway (1985) e o meloso Imensidão Azul (1988), sempre em parceria com o ator Jean Reno. Mas foi mesmo com o icônico O Profissional (1994), que Besson (assim como Reno) viu sua carreira ser impulsionada, o que o levou imediatamente a Hollywood, onde dirigiu, 3 anos mais tarde, o divertido O Quinto Elemento, ficção científica com Bruce Willis que ganhou status cult com o passar do tempo e que é lembrado em diversos momentos deste novo Valerian, que marca o retorno de seu realizador às suas raízes.


E como é lembrado! Seja na decisão de incluir uma rica infinidade de raças alienígenas, ou de construir uma caótica sequência em meio a um tumultuado território alienígena (aqui um curioso mercado a céu aberto), até a consagrada perseguição de carros do filme de 1997 é referenciado, com uma bela panorâmica que também serve para evidenciar o pomposo orçamento de quase 180 milhões de dólares (o maior da História do Cinema Francês), muito bem gastos por sinal.


O roteiro, também de autoria de Besson, adapta a HQ homônima que acompanha as aventuras de Valerian (Dane DeHaan, de A Cura) e Laureline (Cara Delevigne, de Esquadrão Suicida), dois agentes interestelares que durante a missão de encontrar um enigmático artefato, se veem numa conspiração que pode colocar em xeque toda a credibilidade de seu trabalho.


Ambientada num longínquo futuro, a produção faz questão de mostrar como chegamos àquele momento, num breve prólogo que é eficaz justamente por ser econômico, e exibe imensa energia em suas vastas sequências de ação que, graças ao seu diretor ao lado do montador Julien Rey (Lucy, engolido por suas pretensões), que imprimem um ritmo tão acelerado que o espectador rapidamente se vê envolvido e sem tempo para pensar.


Isso, aliás, é um grande trunfo do filme que além de conseguir entreter seu público, consegue compensar alguns dos maiores deslizes do roteiro, que confirmam as maiores falhas de Besson, a começar pela obsessão de dar um significado maior à história, forçando uma discussão tola e que, ao abordar o Amor, ultrapassa os limites da pieguice, provocando menos constrangimento, em contrapartida, do que o óbvio arco dramático de Bubble, interpretada por Rihanna com um misto de sensualidade e sensibilidade. E, como já era de se esperar, a cantora se sai melhor na primeira.


Por falar em Rihanna, o elenco principal também tem sua parcela de equívocos, como ao escalar os joviais Dane DeHaan e Cara Delevigne como agentes intergalácticos. Traído por seu biotipo, Dane DeHaan acaba causando estranheza na pele do experiente Valerian, já que seus 31 anos não são refletidos por sua aparência que mais lembra alguém recém saído da adolescência, mesmo problema enfrentado por Delevigne que, sete anos mais jovem, adota uma composição que faz com sua Sargento Laureline pareça mais velha que o parceiro. E o problema fica ainda maior ao constatarmos que Valerian é um Major.


Por sorte, DeHaan é competente o bastante para compensar esses equívocos, usando todo seu talento para transformar o personagem-título numa figura carismática e cujo pedantismo acaba simultaneamente sendo seu maior charme e seu pior defeito (além de se divertir a valer com suas frases de efeito). Por sua vez, sua bela parceira faz de Laureline uma mulher forte e que sabe se valorizar, sempre desviando dos flertes de seu parceiro e se colocando num patamar superior, mas nunca agindo com arrogância, o que contribui para que possamos entender os motivos que levam Valerian a desejá-la.


Já o excelente Clive Owen (de Mandando Bala e da série The Knick) empresta sua imponência para conferir credibilidade ao Comandante Filitt, mas é sabotado pela insistência do roteiro em tranformá-lo numa caricatura bidimensional e que é diminuída no terceiro ato. Aparecendo numa ponta descontraída, Ethan Hawke (do excepcional Boyhood), surpreende na irreverência com que constrói o cafetão alienígena Jolly.


Entretanto, escrever sobre Valerian sem mencionar seu magnífico trabalho de maquiagem seria um tremendo desleixo, visto que a produção exibe um profundo esmero ao conceber as inúmeras criaturas vistas em tela, não só em termos de textura (note a pele dos habitantes de Mül), como também em movimento (observe as criaturas que procuram servir um alimento ao rei), o que pode (e deve) render inúmeros prêmios ao final do ano. Além disso, os animais alienígenas também impressionam, demonstrando uma riqueza assustadora.


Igualmente impressionante é o design de produção assinado por Hugues Tissandier (também de Lucy), que constrói uma lógica visual digna de aplausos, com destaque para o exuberante planeta Mül que reage a estímulos externos da mesma forma que seus habitantes (exibindo brilhos), uma característica simples, mas não menos fascinante. Já as armas e veículos parecem reciclados de obras anteriores, embora a nave de Valerian e Laureline surja apropriadamente no formato de uma arraia.


E se a fotografia de Thierry Arbogast (de O Quinto Elemento e, adivinhe, Lucy) só merece destaque por aproveitar bem as lindíssimas locações (como a praia que inicia e encerra a projeção), o mesmo não pode ser dito da boa trilha sonora do consagrado Alexandre Desplat que, ainda que não demonstre o mesmo brilhantismo de seus trabalhos anteriores, cria faixas muito dignas, além de não cometer o pecado de comentar cada cena.


Por fim, é válido apontar que Luc Besson continua com bom olhar para sequências de ação, deixando as coreografias complexas de lado para investir na adrenalina decorrente da agilidade, o que pode ser comprovado nas sequências do mercado e toda aquela que se passa ao final (apesar de incluir o bobo artifício da contagem regressiva).


No acender das luzes, a impressão que fica é que Valerian e a Cidade dos Mil Planetas consegue entregar uma experiência imersiva como poucas, exibindo um visual de encher os olhos, mas que é atrapalhada pelo fraco roteiro de seu idealizador, que além de esbarrar na pieguice, insiste em parar a narrativa para explicar o que está acontecendo a cada 10 minutos. Poderia ser O Quinto Elemento da nova geração caso também soubesse não se levar a sério, mas ao buscar um significado maior, fora de seu próprio alcance, coloca-se apenas como mais um blockbuster bem produzido.


Obs: Além de seu 3D acrescentar pouco, a produção não faz jus às exageradas comparações com Avatar, que permanece como referência máxima de imersão.


NOTA 6

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