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"Luta Pela Liberdade" exibe primor visual em thriller de espionagem tenso

Foto do escritor: Guilherme CândidoGuilherme Cândido

O cineasta chinês Zhang Yimou, hoje com mais de 30 anos de carreira, talvez seja mais conhecido pelo esmero visual de suas obras e a resistência em aceitar projetos ocidentais (hollywoodianos, especialmente). Porém, sua trajetória como realizador se cruza com a do próprio Cinema de seu país. Afinal, Yimou fez parte da primeira turma aprovada após a reabertura da Academia de Cinema de Pequim, em 1978. Entre seus colegas ilustres estava, por exemplo, Chen Kaige, que mais parte seria responsável pelo seminal Adeus, Minha Concubina, vencedor da Palma de Ouro e indicado ao Oscar em 1993.


Parte importante da chamada 5ª Geração do Cinema Chinês, a filmografia do cineasta é marcada por narrativas clássicas, de formalidade austera. Formou uma parceria longeva com a musa Gong Li, com quem fez pérolas como Lanternas Vermelhas (1991), Tempo de Viver (1994) e Operação Xangai (1995). Trabalhou com astros conterrâneos como Chow Yun Fat (A Maldição da Flor Dourada, 2006), Tony Leung e Donny Yen (Herói, 2002) e internacionais como Christian Bale (Flores do Oriente, 2011), Matt Damon e Willem Dafoe (A Grande Muralha (2016).

Em Luta Pela Liberdade, o roteiro escrito pelo próprio Zhang Yimou em parceria com Yongxian Quan se passa em 1931, ano em que o Império Japonês havia acabado de invadir a China, conquistando a região da Manchúria. Nesse contexto, quatro personagens literalmente caem de paraquedas na história, revelando-se agentes secretos do Partido Comunista Chinês que estão retornando ao país após treinarem na União Soviética. A missão do grupo, batizada de "Utrennya" ("amanhecer", em russo), é expor ao mundo a realidade dos campos de concentração japoneses e, para isso, precisam resgatar um camarada que acabou de fugir de um desses locais e está sendo implacavelmente perseguido.

Mergulhando a trama numa atmosfera de paranoia e suspense, Zhang Yimou transforma Luta Pela Liberdade num noir que também se destaca pelo visual caprichado, marca registrada do cineasta. Beneficiando-se das belas paisagens nevadas, a fotografia de Xiaoding Zhao (colaborador frequente de Yimou e indicado ao Oscar por O Clã das Adagas Voadoras) cria planos absolutamente estonteantes, como o que abre a narrativa e foca os paraquedas abertos como se fossem águas-vivas.

Além disso, o ótimo compositor Yeong-Wook Jo (Oldboy) é hábil ao criar melodias capazes de manter o suspense sem descambar para acordes graves ou harmonias aceleradas, ao passo que o design de produção de Mu Lin (O Panela Quente) exibe um cuidado impressionante na recriação de época (repare na locomotiva e seu interior repleto de detalhes). Da mesma forma, os figurinos de Chen Minzheng (Sombra) refletem a personalidade sombria dos espiões e suas ações dúbias, tornando difícil a tarefa de distinguir mocinhos e vilões.

E grande parte do fascínio de Luta Pela Liberdade é justamente acompanhar o grupo de agentes se deslocando pelo território chinês, durante um rigoroso inverno, sem saber em quem confiar, estando constantemente preparado para o conflito. Um prato cheio para Zhang Yimou brindar o espectador não apenas com momentos em que a apreensão é palpável, mas com sequências de ação que se destacam pelo primor estético e pelas ótimas coreografias, valorizadas por uma montagem que evita cortes frenéticos.

Já o elenco é eficaz ao exaltar a vulnerabilidade dos espiões que povoam a história: Exaustos física e psicologicamente em virtude da impossibilidade de baixar a guarda por um momento sequer (o que poderia ser fatal), eles em nenhum momento deixam de soar como o que realmente são: pessoas de carne e osso que, apesar de idealistas como o título da produção comprova, são seres humanos. Cada rompante heroico e fuga espetacular demandam sacrifícios que acabam refletidos em seus corpos e mentes, que pagam o preço por uma vida de extremos.

Contando também com um design de som absolutamente extraordinário, Luta Pela Liberdade, à primeira vista, pode parecer um típico thriller de espionagem, mas a abordagem realista, a direção requintada e o visual arrebatador, fazem da produção uma experiência singular e recompensadora.


NOTA 7,5

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