Irregular, "Loucos Por Cinema!" celebra a cinefilia
*Visto originalmente durante o Festival do Rio 2024

Recentemente vimos uma onda de cineastas produzindo verdadeiras odes ao Cinema em histórias autobiográficas que buscavam identificar a gênese de cada caso particular de amor à Sétima Arte. Agravados pelo período pandêmico, no qual o exercício da escrita e mesmo do trabalho em si, representava um escape fundamental daquela realidade repleta de incertezas e apreensões. Esse período de longa reclusão forçada gerou uma infinidade de projetos que até hoje ainda são escoados (Deadstream, por exemplo, só chegou ao Brasil anteontem, no Festival do Rio), mas ficou marcada pela tendência de grandes cineastas em mergulharem na própria formação como cinéfilos em primeiro lugar, antes de migrarem para o outro lado da tela.
Foi o caso de Sam Mendes com o regular Império da Luz, de Damien Chazelle com o fracassado Babilônia e também de Steven Spielberg com o fantástico Os Fabelmans. Outros fizeram o mesmo, mas Arnaud Depleschin só agora resolve entrar na brincadeira, o que limita o impacto deste Loucos por Cinema! É como aquele amigo que chega apenas no final da festa, cheio de energia quando todos ao seu redor já estão numa rotação bem menor, uma metáfora que serve tanto para o cineasta francês e seus colegas, como para nós, espectadores e... “loucos por Cinema”.

Depleschin, que vem acumulando indicações à Palma de Ouro desde seu segundo filme, La Sentinelle (1992), recentemente tem dado argumentos para justificar o fato de nunca ter sido reconhecido no Festival de Cannes e o César de Melhor Diretor pelo bom Três Lembranças da Minha Juventude (2015), representa mais uma exceção do que uma regra. No Festival do Rio 2022, vale lembrar, lançou o fraquíssimo Briga Entre Irmãos. E não será dessa vez que o público carioca poderá dizer que viu um grande filme de sua autoria.

O que não deixa de ser doloroso se considerarmos a natureza passional do projeto. É mais que evidente (genuína) a ligação emocional entre o diretor e o Cinema, mas a forma como refaz seus primeiros passos como cinéfilo é, no mínimo, babélica. Ele mistura documentário e ficção, alternando entrevistas, com uma espécie de reconstituição ficcionalizada, reservando espaço também para segmentos didáticos jogando alguma luz sobre a História do Cinema. As intenções são as melhores, mas o traquejo para administrá-las, nem tanto. Jorge Furtado só existe um e, felizmente, é brasileiro.

São vários filmes, dentro do próprio filme, brigando pelo mesmo holofote, sem que o francês se dê conta disso. Pelo contrário, dando asas à sua imaginação impulsiva enquanto abandona a ficção por longos momentos, retomando-a de supetão apenas para se lembrar de que há um documentário para o qual voltar suas atenções. A inserção de trechos de outros filmes só não invade o campo da chantagem emocional, por prestar um merecido tributo a O Exterminador do Futuro (1991), subestimado longa de James Cameron mais lembrado como sucesso comercial e marco tecnológico do que como o clássico complexo e inesquecível que o é, condenado ao preconceito de gênero tão reverberado pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas.
NOTA 6