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Foto do escritorGuilherme Cândido

Godzilla vs. Kong traz bem-vindo escapismo em tempos de pandemia

O Cinema já produziu inúmeras obras centradas em grandes confrontos. O conflito, aliás, é um elemento inerente ao processo criativo, além do inevitável apelo junto ao público. Portanto, é fácil de entender os propósitos comerciais que moveram a Warner a investir numa ideia tão rasa e estúpida quanto a que gerou este filme (embora os japoneses já a tenham executado em 1963). O que não deixa de ser surpreendente (ou chocante) é que Godzilla Vs. Kong é ainda mais estúpido do que parece.


Ideias estúpidas já embasaram bons filmes, conseguindo ao menos divertir plateias, seja ao esconder suas deficiências ou até mesmo ao rir delas. No caso de produções como essa, levar-se a sério pode ser o pior dos pecados e mesmo que o novo duelo de titãs da Warner (que já colocou o Batman para brigar com o Superman) jamais ouse ter qualquer tipo de ambição além do entretenimento fácil - o que não deixa de ser louvável na época em que vivemos - seu roteiro é ruim o bastante para sequer conseguir rir de si mesmo.


Desistindo da ideia de desenvolver seus personagens humanos após fracassar duplamente com os últimos Godzilla, a Warner finalmente concentra seus esforços nos verdadeiros astros, destituindo da cadeira de direção, por tabela, o roteirista Michael Dougherty. Parecia a tempestade perfeita, não fosse pela manutenção de Max Borenstein como autor principal do script ao lado de Eric Pearson (Thor: Ragnarok).


Se já em Godzilla (2014), Borenstein se mostrava inapto para a função, aqui ele atinge o fundo do poço, forçando personagens a perguntarem, de cinco em cinco minutos, o que está acontecendo (geralmente obtendo um "eu não sei" como resposta), investindo em clichês batidíssimos como ao colocar o vilão (um dos vários estereótipos do roteiro) para revelar seu plano maligno num longo monólogo, ou o pior de todos, ao criar personagens apenas para cumprirem a tarefa de explicar conceitos ao público.


Essa inglória responsabilidade fica a cargo de Rebecca Hall, que aparece em cena para dizer, do mais absoluto e obscuro nada, coisas como "o machado está usando o núcleo de radiação, como se estivesse carregando", numa situação completamente fortuita e inédita, sem alguém ter perguntado. O restante do elenco segue a cartilha de estereótipos, com o nerd de óculos sendo usado como alívio cômico (Julian Dennison, de Deadpool 2, desperdiçado), e o funcionário do governo cujas preciosas informações são tratadas como loucura (Brian Tyree Henry, o único que se salva do elenco).


Já o grande chamariz do filme, ao menos, é tratado com alguma dignidade: retratando os dois titãs como figuras verdadeiramente colossais e imponentes, o cineasta Adam Wingard (do ótimo O Hóspede) ao lado do diretor de fotografia Ben Seresin (Mundo em Caos), capta as lutas em luxuosos planos abertos que evidenciam a magnitude do confronto (embalado pela boa trilha de Tom Holkenborg, de Deadpool), o que, ao mesmo tempo, serve como uma bela homenagem aos tokusatsus. E é uma pena que a pancadaria dure tão pouco tempo, com Godzilla e King Kong dividindo não mais do que meia hora de tela.


No fim das contas, Godzilla Vs. Kong passa muito longe de ser aquele típico blockbuster arrasa-quarteirões, mas apesar de suas deficiências, chega em bom momento, propiciando uma bem-vinda fuga dessa realidade pandêmica que vivemos. Para aqueles interessados apenas na pancadaria de grandes proporções (literalmente) e que conseguirem suportar o terrível roteiro, soará como um pequeno lembrete daquilo que nos foi tirado pela Covid-19 e de que tanto sentimos falta.


NOTA 5,5

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