Festival de Cinema Europeu Imovision #5: "Quando a Luz Arrebenta"
- Guilherme Cândido
- há 13 minutos
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Quando a Luz Arrebenta
(Ljósbrot, Islândia)

Um casal apaixonado aprecia o pôr-do-Sol enquanto faz planos para o futuro. A fotografia, beneficiada pela chamada “hora mágica” (aquele momento antes do Sol se pôr e logo após nascer em que o dia ganha um véu suave e avermelhado), por si só já confere beleza a um momento que, imaginamos, precede uma tragédia (na Arte, nenhum casal fica impune após verbalizar o amor eterno, não é mesmo?). Afinal, Diddi (Baldur Einarsson) e Una (Elín Hall, pronta para o estrelato) estão prestes a assumir publicamente o relacionamento, uma vez que o primeiro prometeu terminar com a atual namorada, Klara (Katla Njálsdóttir), no dia seguinte. Então, a imagem é cortada e nossas suspeitas se confirmam com uma longa tomada num túnel com diversos carros entrando numa curva até que uma imensa explosão enche a tela.
Minha porta de entrada para o Cinema do islandês Rúnar Rúnarsson, indicado ao Oscar e à Palma de Ouro pelo curta live-action Síðasti bærinn (“A Última Fazenda”, em tradução livre), Quando a Luz Arrebenta é seu mais novo rebento a ser celebrado no circuito de festivais. Não por acaso, foi escolhido para abrir a mostra Un Certain Regard do mais recente Festival de Cannes. A produção, uma tortura psicológica com pouco mais de oitenta minutos de duração, atira seus personagens num estado profundo de angústia até que o luto rouba seu lugar e torna tudo ainda mais intenso e excruciante. Apesar de relativamente curta, a experiência de assistir a Ljósbrot, no original, cobra seu preço, mas não em função do ritmo (que funciona), e sim através de sua densidade (palpável).

O problema é que, apesar de positiva a intenção de exalar humanidade através da comunhão de amigos em cena, demandando nossa empatia por tabela, o texto de Rúnnarsson é repetitivo ao ponto de soar redundante, como no óbvio plano em que os reflexos de Una e Klara são fundidos pela imagem. Em seus esforços de retratar a dor de Una, o cineasta lança a moça em situações rocambolescas, invariavelmente terminando em confronto ou numa fuga deste. Isso se agrava diante do curto espaço de tempo no qual a narrativa se desenvolve, apressando acontecimentos e diluindo ou ignorando outros importantes.

O peso da atmosfera, por outro lado, é administrado com segurança, principalmente pela forma seca com que o diretor guia a câmera pelo ambiente enquanto mostra seus personagens reagindo, seja à tristeza ou mesmo ao ambiente, certificando-se de captar nuances e detalhes. Nesse ponto, o longa-metragem está muito bem-servido, pois Erin Hall oferece uma performance sólida ao evocar os sentimentos dolorosos que permeiam Una e que por sua vez são salientados pelo roteiro. Rúnnarsson não economiza, por exemplo, nas passagens em que ela presencia comentários elogiosos à Klara, incluindo vários instantes compartilhados com a moça. É uma pena que até essas sequências ganham “versões alternativas”, até que o iminente confronto encerra o conflito silencioso e latente entre as enlutadas.

Eventualmente passando a impressão de estar andando em círculos, Quando a Luz Arrebenta merece créditos por jogar luz sobre a capacidade do ser humano em se colocar no lugar do outro, sentindo suas agruras e oferecendo calor quando tudo ao redor parece frio e impessoal.
NOTA 7