Festival de Cinema Europeu Imovision #3: "Síndrome da Apatia"
- Guilherme Cândido
- há 4 horas
- 2 min de leitura
Síndrome da Apatia
(Quiet Life, Grécia/Estônia/Suécia)

O grego Alexandros Avranas ainda precisa se consolidar no cenário mundial. Afinal, o mesmo cineasta que venceu o Leão de Prata em Veneza por Miss Violence, cometeu o inclassificável Crimes Obscuros, uma mancha na carreira de Jim Carrey. Quase oito anos após a recepção morna de seu Não Me Ame, Avranas retorna com Síndrome da Apatia mostrando apetite para provocar. Coincidentemente, a mesma irregularidade que marca sua carreira, é sentida durante a mais nova atração do Festival de Cinema Europeu Imovision.
A história gira em torno de uma família russa pleiteando residência permanente em Gotemburgo, segunda maior cidade da Suécia. Apesar de se passar em 2018, Avranas dá uma roupagem distópica à narrativa, graças aos sets impessoais e às cores estéreis. A artificialidade do design de produção endossa o tom teatral de sequências inteiras, como aquela que abre a projeção e traz o quarteto de refugiados recebendo funcionários do Departamento de Imigração. O problema é que o roteiro assinado por Avranas e Stavros Pamballis está retratando dois assuntos muito sérios: imigrantes em busca de asilo político e uma doença que, coincidentemente ou não, acomete seus filhos.

A Síndrome da Resignação Infantil, no entanto, não é reconhecida pela OMS, como sugere a produção ao apresentar uma cartela indicando-a como “uma nova doença” a partir de 2014. Fortalece-se a tese de que se trata de um mero subterfúgio para o filme apontar a gravidade da crise dos refugiados europeus, especialmente quando textualmente a suposta doença converge com o discurso sobre traumas e descaso. Embora seja benigna a atitude de lançar luz sobre um problema contemporâneo, nobreza não blinda Quiet Life (no original) durante a batalha brutal que é travada no campo subtextual entre realidade e ficção, drama e sci-fi, fantasia e realismo.

A tal Síndrome, da qual sabemos pouco além do fato de ser real e afetar especificamente crianças imigrantes na Suécia, se manifesta através de um “quase coma” fulminante. A primeira afetada é justamente a caçula da família protagonista, logo após o pedido de asilo ser negado por faltarem provas de que o Governo Russo estava de fato perseguindo-os. O motivo de tamanha hostilidade, ilustrada por agressões físicas e intimidações, gira em torno da recusa do patriarca, diretor de uma escola de ensino médio, em proibir a circulação de livros pró-Democracia.

Porém, ao invés de vilanizar os reais opressores (jamais vistos), Síndrome da Apatia acaba produzindo um retrato pouco lisonjeiro sobre a Suécia, cujos funcionários públicos são vistos como criaturas frias e calculistas, com uma raríssima exceção (uma moça empática que já esteve em condição parecida). Isso não seria um problema caso Avranas desenvolvesse essa premissa, mas eis que a natureza difusa do texto ataca novamente quando o alvo passa a ser a própria família e uma sequência bizarra ao final (envolvendo um veículo, uma árvore e óculos escuros) torna tudo ainda mais nebuloso.

Se o texto é inconsistente, o que sobra para ser apreciado é o trabalho técnico, principalmente o design de produção homogêneo e a fotografia, avessa a cores fortes e com movimentos de câmera engessados. O elenco mostra sintonia com esses aspectos, mas o saldo, infelizmente, não é positivo.
NOTA 5