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Festival de Cinema Europeu Imovision #1: "A Arte do Caos"

  • Foto do escritor: Guilherme Cândido
    Guilherme Cândido
  • há 12 minutos
  • 2 min de leitura

A Arte do Caos

(Verbrannte Erde, Alemanha)



Só existe um Michael Mann, é verdade, mas é difícil disfarçar o sorriso quando alguém talentoso resolve se inspirar em obras como Profissão: Ladrão (1981) e, claro, Fogo Contra Fogo (1995). É o caso do alemão Thomas Arslan, que resolveu fazer de seu nono longa-metragem para o Cinema um neo-noir com forte vocação para provocar tensão.

 

No texto escrito pelo próprio Arslan, Mišel Matičević vive Trojan, sujeito que já abre a produção esperando alguém sair de carro para invadir uma casa. Mas não se engane, o protagonista não é um bandido pé de chinelo e parece estar bem informado quando aponta sua lanterna pelos cantos de um quarto. O objetivo, uma caixa contendo relógios aparentemente valiosíssimos é alcançado e ele deixa o local com a mesma discrição absoluta com que entrou.

 

Competente como o membro da gangue do Neil McCauley de Robert De Niro e determinado como o memorável Frank vivido por James Caan, Trojan vive de golpes esporádicos, mas certeiros. Sem violência e com riscos minimizados. Falando pouco, mas objetivamente, é assim que ele permanece na ativa, trocando de hotéis como quem muda de roupa. Essas características, inclusive, aproximam Trojan do Motorista Sem Nome de Drive (2011), o mais estiloso e hipnótico neo-noir do século XXI. As semelhanças com o magnum opus de Nicolas Winding Refn não são aleatórias, basta observar a onipresença de carros, utilizados para fugas audaciosas e tocaias, claro, mas também para negociações escusas, intimidações e propostas indecentes.

Arslan faz o dever de casa com precisão quase cirúrgica. Em determinados momentos, estamos tão envolvidos que sequer damos importância a facilitações de seu roteiro (o implacável Victor, por exemplo, é um dos grandes beneficiados). A forma com que Trojan realiza seu primeiro trabalho, também deveria inspirar desconfiança, mas o foco de Arslan está em outras áreas.

Nesse aspecto, Berlim torna-se fundamental para ilustrar a visão de mundo crua e feia perpetrada pelo realizador, avesso a floreios estéticos. A ausência de estilização, seja na fotografia sóbria de Reinhold Vorschneider ou nos acordes minimalistas do compositor Ola Fløttum (Thelma), contribuem para a criação de um ecossistema cujas imperfeições são tratadas como brechas por personagens à margem da Lei, mas não despidos de decência. Traços compartilhados com o Caçador de Morte (1978) de Walter Hill, outro thriller de assalto a jogar luz sobre marginais com escrúpulos.

A Thomas Arslan, falta traquejo na hora de filmar a ação: ele não se complica durante os tiros, optando por planos abertos, mas quando os personagens saem no braço, Arslan parece não ter a menor ideia do que fazer, resultando em cenas gravadas por ângulos ingratos e picotados pela montagem no melhor estilo Michael Bay. Contudo, verdade seja dita, o cineasta prospera quando o assunto é perseguição, evitando rompantes grandiloquentes e permanecendo fiel à abordagem pé no chão.

Mas Thomas Arslan não é Michael Mann. Ele pode tentar fazer de Mišel Matičević seu protótipo de James Caan, mas A Arte do Caos não é Profissão: Ladrão. Sequer tem personalidade suficiente para ser Drive, mas só de ter mirado em alvos tão superlativos, merece ser elogiado por sua ambição. O Festival de Cinema Europeu Imovision começa com o pé direito.


NOTA 7 

 

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