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Foto do escritorGuilherme Cândido

"Dupla Jornada" traz escapismo estiloso e divertido ao catálogo da Netflix


Vivemos uma era onde grandes dublês estão se descobrindo diretores de filmes de ação. Encorajado por Chad Stahelski e David Leitch (ex-dublês e criadores da franquia John Wick), J.J. Perry é mais um a se encontrar atrás das câmeras. Profissional prestigiado cujo caminho nas artes marciais começou a ser trilhado na década de 70 e cruzou com o das artes dramáticas no final da década seguinte, logo após deixar o exército, ‘Loco Perry’ (como é conhecido na Indústria) tem em seu currículo superproduções como os dois últimos Velozes e Furiosos, Projeto Gemini, Star Trek – Além da Escuridão, O Vingador do Futuro, além dos já citados John Wick e muitos outros projetos também na TV. Agora, Perry coloca toda a sua expertise a serviço de uma produção que mesmo tentando abraçar elementos de gêneros como o terror e a comédia, acaba se destacando justamente por suas sequências de ação.

Escrito pelo estreante Tyler Tice em parceria com Shay Hatten (John Wick 3: Parabellum), o roteiro acompanha Bud (Jamie Foxx, de Baby Driver - Em Ritmo de Fuga e Colateral), que usa seu disfarce como limpador de piscinas para encobrir seu trabalho como caçador de vampiros numa Los Angeles secretamente dividida entre humanos e chupadores de sangue. Sem dinheiro para bancar o tratamento da filha, com dificuldades para honrar compromissos com a ex-esposa e diante da possibilidade de ver sua família ter de se mudar para a Flórida em busca de uma melhor qualidade de vida, ele se vê obrigado a fazer as pazes com o Sindicato, organização secreta que regulamenta a atuação dos Caçadores, para trabalhar também durante o dia.

Começando a projeção metendo o pé na porta com uma intensa sequência de ação servindo como cartão de visitas, Perry não perde tempo e já mostra todas as suas credenciais, abusando de coreografias complexas que incluem acrobacias, rápidos movimentos de câmera e muita flexibilidade através dos contorcionistas profissionais que foram contratados pela produção. Assim, Dupla Jornada estabelece um nível de excelência que poderia ser difícil de ser mantido em outra produção, mas que aqui segue surpreendendo até o final.


A tarefa é facilitada por um inspirado Jamie Foxx, especialista na mistura entre ação e comédia. O resultado é uma performance descolada e que se beneficia imensamente da química com Dave Franco (o Jack Wilder de Truque de Mestre), confortável no papel do burocrata certinho que cai de paraquedas na ação. As boas interações da dupla mantêm o filme em alta quando o clima ameaça esfriar entre um set piece e outro.

O ritmo acompanha as tresloucadas lutas, transformadas numa engenhosa e extremamente afinada sinfonia de balas, golpes e saltos que jamais deixam de empolgar. Além disso, o roteiro faz questão de situar Dupla Jornada no universo dos vampiros, tirando sarro da “saga” Crepúsculo e fazendo referências divertidas a Blade, óbvia inspiração para o projeto.


Tecnicamente óbvio, desde os figurinos (camisa polo, óculos e calças cáqui dobradas para o certinho, camisa larga e florida para o descolado) até o design de produção (escuridão nos ambientes com vampiros, madeira e pilhas de documentos nos escritórios do Sindicato), o filme também consegue resultados irregulares ao flertar com o horror, já que o humor e a ambientação são obstáculos onipresentes para as tentativas de provocar sustos ou arrepios.

Introduzindo um universo que pinça elementos de R.I.P.D. – Agentes do Além (obra que já derivava de Homens de Preto), satirizando a burocracia, e dos clássicos romances vampíricos, resgatando princípios básicos como a ausência de reflexos, as consequências mortais da exposição aos raios solares (nada de brilhar) e modernizando outros aspectos como ao deixar de lado os caixões e as inadequações sociais, Dupla Jornada se apresenta como uma colcha de retalhos sempre que tenta expandir sua mitologia, calcada em derivações e adaptações.


Além disso, o escasso material dramático é insuficientemente explorado e a dupla de roteiristas é pouco sutil ao articular as motivações de sua galeria de personagens: a família de Bud, por exemplo, existe apenas para guiar as atitudes do protagonista, servindo, de tabela, como uma espécie de “relógio narrativo” (note que antes de sair de cena, alguém do núcleo familiar sempre informa o tempo que falta para o prazo acabar).

Os diálogos, sempre expositivos, são utilizados, ora para passarem ao público informações importantes, ora para reforçarem estereótipos. Nesse ponto, Dave Franco é o arauto eleito pelo roteiro: quando não está citando integralmente os códigos do Sindicato (alguns relevantes no terceiro ato), Seth está proferindo clichês como “não acredito em armas”, sublinhando sua postura diametralmente oposta à de Bud.


Incluindo uma participação especial do ator e dublê Scott Adkins (Os Mercenários 2) em uma espetacular sequência de ação que aproveita toda a sua habilidade, o roteiro ainda reserva espaço para o rapper Snoop Dogg roubar a cena como um irreverente Caçador veterano que importa algumas características de sua personalidade.


No final das contas, Dupla Jornada funciona melhor quando está se entregando ao exagero de suas sequências de ação e para uma produção claramente voltada para os entusiastas do gênero isso provavelmente será o bastante para render uma divertida experiência à frente da televisão.


NOTA 6,5

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