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Foto do escritorGuilherme Cândido

Caça-Fantasmas dribla preconceitos e supera expectativas

Atualizado: 17 de jul. de 2022

Sucesso na década de 80, era de se esperar que a franquia Os Caça-Fantasmas voltaria aos cinemas. Entretanto, esse retorno (tão aguardado pelos fãs) enfrentou os mais variados problemas, a começar pela resistência do astro Bill Murray, passando por problemas com a agenda de outros atores, até a morte do co-criador e co-protagonista Harold Ramis, fator decisivo para o cancelamento do terceiro filme.


O estúdio, porém, ainda tentava seguir em frente, quando resolveu aceitar a ousada ideia de Paul Feig, diretor recém-contratado: fazer um novo filme somente com mulheres como protagonistas. O impacto, claro, foi imediato, despertando a ira de vários supostos fãs, que não aceitavam a ideia de ver atrizes como Caça-Fantasmas. Misoginia à parte, Feig notabilizou-se recentemente por dirigir algumas das melhores comédias dos últimos anos (todas protagonizadas por mulheres).


Escrito pelo próprio cineasta, em parceria com Katie Dippold (com quem trabalhou em As Bem Armadas), o roteiro tem a inteligência de reverenciar o clássico original, mas sem esquecer de pavimentar o caminho para um novo universo. Com isso, a dupla não só consegue criar personagens fortes, como também confere personalidade o bastante para distanciá-las completamente dos originais.


Méritos também para o afiadíssimo elenco que, assim como no primeiro filme, tem na química seu maior trunfo. Colaboradoras habituais do diretor, Kristen Wiig e Melissa McCarthy investem numa composição contida, mas não menos eficiente, permitindo que as outras atrizes também tenham seus bons momentos. Mas apesar de Leslie Jones divertir com sua Patty, é mesmo Kate McKinnon quem rouba a cena como a insana Holtzmann, protagonista de alguns dos melhores momentos da produção.


Conferindo uma imprevisibilidade à engenheira, McKinnon é capaz de provocar o riso (ou o estranhamento) sem dizer uma palavra sequer, investindo em expressões e posturas que só comprovam seu talento. Fechando o elenco principal está Chris Hemsworth (o Thor), que revela uma veia cômica surpreendente, transformando seu Kevin numa figura estúpida, mas cuja ingenuidade acaba conquistando a simpatia das Caça-Fantasmas (e consequentemente do público).


Aliás, o personagem de Hemsworth é mais uma sacada genial do filme, já que é exatamente o contraponto a tantos filmes machistas que existem por aí. Infelizmente, em muitas produções de Hollywood, a única função da mulher é servir ao homem, que ignora sua personalidade (inteligência) a fim de explorar apenas sua beleza. O que é exatamente o que acontece com Kevin, com propósitos cômicos, obviamente, mas sem deixar de dar aquela alfinetada. Além de funcionar como crítica, o personagem também é responsável por muitas gargalhadas.


Porém, apesar de encaixar bem algumas referências, o roteiro acaba derrapando ao investir em outras mais contundentes. É uma pena, por exemplo, perceber que o filme não tem a menor ideia de como aproveitar o personagem Martin Heiss, por exemplo, que se revela uma peça descartável e sem graça. Outro ponto negativo do roteiro é a presença de alguns furos, principalmente no terceiro ato da trama (observe a reação de Erin ao descobrir uma informação envolvendo Kevin, por exemplo).


Em contrapartida, Caça-Fantasmas também se revela uma produção tecnicamente competente, pois não usa seus (bons) efeitos visuais de forma gratuita, criando boas soluções visuais ao mesmo tempo em que não descarta o design do filme original, fazendo um bem-vindo upgrade. E vale destacar, mais uma vez, a inteligência de Feig, que explora todas as utilidades do 3D (repare como os elementos em cena parecem “sair da tela”). Poucos cineastas, nos últimos anos, usaram tão bem o 3D como Paul Feig.


Nostálgico também ao incluir a contagiante música-tema do filme de 1984 (e em diversos momentos), Caça-Fantasmas representa um enorme acerto para todos os seus envolvidos, pois diverte sem ofender e ainda cria um universo independente sem deixar de homenagear o original.


Para aqueles que esperavam o contrário, acho que foi uma bela surpresa.


Observação: Não deixe de conferir os créditos e a cena que acontece logo em seguida.


NOTA 6,5

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