top of page

"Better Man" é um retrato vibrante e irreverente da trajetória de Robbie Williams

  • Foto do escritor: Guilherme Cândido
    Guilherme Cândido
  • 12 de mar.
  • 3 min de leitura

Biografias de popstars nunca saem de moda. Whitney Houston (I Wanna Dance With Somebody), Freddie Mercury (Bohemian Rhapsody), Elvis Presley (Elvis), Elton John (Rocketman). Todos esses astros da música já ganharam ao menos uma cinebiografia para chamar de sua. A julgar pelos mais de 75 milhões de discos vendidos e os recordes batidos, era de se esperar que o inglês Robbie Williams seguiria o mesmo caminho. Foi ele quem assinou o maior contrato da história da música britânica, recebendo 80 milhões de libras esterlinas da gravadora EMI em 2002, além de vinte anos depois se tornar o artista solo com mais discos no topo das paradas (deixando até os Beatles para trás). Outra proeza realizada pelo eterno bad boy foi ter atraído cerca de 375 mil pessoas para vê-lo nos três shows que realizou em Knebworth, quebrando o recorde de maior karaokê do mundo na faixa Strong junto ao público. Williams chegou ao topo rápido demais e por isso experimentou a queda cedo, numa história narrada por ele mesmo neste Better Man, longa-metragem indicado ao Oscar de Melhores Efeitos Visuais, mas que só agora chega oficialmente ao público brasileiro.

O diretor Michael Gracey, co-autor do roteiro ao lado de Simon Gleeson e Oliver Cole, eleva o material da mesma forma que fez com o sucesso O Rei do Show (2017), sua obra anterior. Enquanto o filme estrelado por Hugh Jackman e Zac Efron compensava a propensão ao melodrama com sequências tão coloridas e bem coreografadas que davam vida às contagiantes composições de Justin Paul e Benji Pasek (vencedores do Oscar por La La Land), Better Man supera a estrutura burocrática do texto com transições inventivas, números musicais grandiosos e o foco mais do que apropriado na persona irreverente de Robbie Williams, a começar pela corajosa decisão de transformá-lo num macaco.

A ideia, bizarra à primeira vista, parte de uma declaração do próprio músico, revelando se portar no palco como um chimpanzé. Mas Gracey torna tudo ainda mais fascinante ao integrar esse detalhe à trama, sem se entregar a explicações e problemáticas. Afinal de contas, somente o espectador vê Robbie como um macaco pois é o único a enxergar o interior do sujeito, ao passo que os demais personagens o veem como um ser humano comum. Sendo assim, o roteiro poupa esforços e passa a se concentrar apenas nos benefícios dessa peculiaridade, como a possibilidade de trazer o próprio Robbie Wiliams para dublar sua versão cinematográfica.

Isso permite que a produção flerte com a mesma anarquia transmitida por Williams, seja por declarações espirituosas ou por trazer credibilidade aos dramas retratados. Da mesma forma que o cantor aproveita o ensejo para brincar com as insinuações a respeito de sua sexualidade, mostrando estar pouco ligando para o que as pessoas pensam (“disseram que eu estive com os quatro integrantes do Take That, mas se esqueceram que eu também estive com quatro das cinco Spice Girls também”), ele também não evita tocar em tópicos delicados de sua trajetória, como o vício em drogas e sua relação conturbada com o pai.

Nesse ponto, nem mesmo a abordagem atrevida salva a narrativa de esbarrar em praticamente todos os clichês típicos de uma cinebiografia musical (a figura paterna problemática, a infância difícil, os excessos, o abuso de drogas...), pois os roteiristas estreantes jamais conseguem disfarçar estarem utilizando um modelo fartamente aproveitado em Hollywood. Para amenizar essa roupagem vulgar, Robbie Williams entrega-se sem reservas a polêmicas que marcaram sua carreira, fazendo de Better Man uma longa sessão de terapia. Ele não apenas assume ser narcisista, por exemplo, como também se despe de qualquer traço de ego para admitir erros cometidos, mostrando por tabela que seu filme passa muito longe de ser “chapa branca”.

No entanto, por mais que seja difícil não se contagiar pelos ótimos números musicais (especialmente aquele que se passa em Piccadilly Circus e envolve muito dourado e troca de figurinos) o destaque da produção é mesmo a tecnologia utilizada para trazer o biografado como um símio. O motion capture visto aqui é tão impressionante quanto o de O Senhor dos Anéis e Avatar, mas não se limita ao básico, já que desafia-se a todo momento, oferecendo sequências cada vez mais complexas até chegar ao ápice com a passagem em que Robbie, literalmente, luta contra seus demônios internos, num set-piece que parece saído diretamente de uma obra da franquia Planeta dos Macacos.

Vibrante, criativo e engenhoso, Better Man é mais um ponto alto na carreira de Michael Gracey, cineasta que está se solidificando como um dos grandes autores de musicais da atualidade, tendo abraçado a natureza de seu biografado como poucos realizadores seriam capazes de fazer. Afinal, como não admirar um filme cujo protagonista não tem o menor pudor em mandar seu espectador se foder?


NOTA 7,5

bottom of page
google.com, pub-9093057257140216, DIRECT, f08c47fec0942fa0