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Foto do escritorGuilherme Cândido

Apesar de orçamento recorde, "O Agente Oculto" é uma produção medíocre

Atualizado: 27 de jul. de 2022

Escrito e dirigido pelos Irmãos Russo, queridinhos da Marvel, Agente Oculto é mais uma caríssima aposta da Netflix para tentar frear a queda do número de assinantes. Novamente seduzindo nomes pesados da indústria, o “Original Netflix” reúne Ryan Gosling (La La Land – Cantando Estações), Chris Evans (Vingadores – Ultimato) e Ana de Armas (007 – Sem Tempo Para Morrer) numa trama de espionagem com pitadas de megalomania.


Comandando uma equipe fora dos registros para lidar com missões altamente secretas, o agente da CIA Don Fitzroy (Billy Bob Thornton, de Papai Noel às Avessas 2) recruta um jovem presidiário com o clássico pretexto de atuar pelo país em troca da redução de sua pena. Ganhando o codinome 6, o homem (Gosling) acaba construindo uma forte reputação em anos de serviço, mas ao ser chamado para eliminar um colega de divisão (4, vivido por Callan Mulvey, de Batman vs. Superman), desconfia que a CIA está executando uma queima de arquivo liderada pelo misterioso Carmichael (Regé-Jean Page, de Bridgerton). Aliando-se à agente Miranda (Armas), ele parte em busca da verdade enquanto é caçado pelo imprevisível Lloyd (Evans).


A premissa, num “feijão com arroz” dos filmes de espionagem, não deixa muita margem para surpresas, sendo concebida pelos Russo como uma desculpa para atirar seus personagens numa corrida pelo mundo, mesmo que a frenética troca de locações muitas vezes não faça sentido, ao menos narrativamente, pois em termos turísticos as tomadas fotogênicas na Croácia, no Azerbaijão e na República Tcheca cumprem muito bem suas funções.


Isso acaba deixando buracos narrativos difíceis de ignorar, como toda a sequência de ação que se passa numa praça de Praga: Enquanto Six tenta se livrar da polícia local, os homens de Lloyd surgem implacavelmente, armados até os dentes com direito a metralhadoras pesadas e até bazucas. Six, Miranda e os policiais acabam se unindo contra os apelativos vilões, que mandam tudo literalmente pelos ares. Com o caos instalado, não vemos absolutamente nenhuma consequência além da correria dos civis e a destruição das belas construções, pois imediatamente a narrativa corta para um novo país, assim que o frenesi cessa.


Ou seja, somos obrigados a engolir que os protagonistas podem circular tranquilamente pela Europa mesmo depois de destruírem metade de Praga. Como não estavam usando máscaras, era de se imaginar que atraíssem a atenção das autoridades ou, pelo menos, da imprensa, mas quando a narrativa corta para o próximo país, sem o menor sinal de repercussão, a impressão que dá é a de que os protagonistas possuem o poder do teletransporte, o que também explicaria de onde eles tiram dinheiro para financiarem esse tour europeu.


Pior que isso, só mesmo a excepcional ideia dos Russo de interromperem a progressão da história para mostrarem um flashback absolutamente deslocado: se inicialmente o filme seguia o caminho dos thrillers de espionagem clássicos, com os personagens em busca de um MacGuffin (o Pen Drive), repentinamente muda para uma narrativa de resgate, com Claire (a sobrinha de Fitzroy) em perigo, mas por quê Six deveria se importar com ela? É aí que entra (bruscamente) o flashback, forçando uma ligação emocional entre o espião e a menina para justificar todo o terceiro ato.


Que por sinal é uma decepção: ocorrendo durante a noite (uma tendência das produções que buscam baratear os custos com efeitos visuais), a produção não vai além das explosões e trocas de tiro apresentadas nos dois primeiros atos, demonstrando uma imensa preguiça por parte dos diretores que já foram capazes de elaborar ótimas coreografias em Capitão América – O Soldado Invernal. E semelhante ao que fizeram no filme de 2014, quando exageraram ao mostrarem personagens fugindo ao fazerem buracos no chão, aqui a solução mais fácil encontrada é se atirar pela janela. E isso acontece com tanta frequência que fica difícil não questionar a qualidade dos vidros europeus.


Ryan Gosling, visivelmente desinteressado, não se esforça para tornar Six um personagem memorável, limitando a interpretá-lo como o mesmo homem perigoso de poucas palavras que viveu em obras superiores como Drive, Só Deus Perdoa e O Lugar Onde Tudo Termina, ao passo que Chris Evans, cujo personagem não possui uma motivação muito clara, investe numa composição semelhante à de Glen Powell como o Hangman de Top Gun – Maverick, mantendo um inabalável sorriso debochado e destacando-se com a melhor piada do filme, aquela que envolve o vindouro filme da Barbie, cujo Ken será interpretado justamente por seu colega Ryan Gosling.


E se Jessica Henwick (a Bugs de Matrix Resurrections) sofre com uma personagem cuja única função é reclamar, Wagner Moura dribla o tempo limitado de tela para conferir uma energia maníaca a Laszlo Sosa e roubar a cena, aproveitando a caracterização estilizada para caprichar nos trejeitos excêntricos, ao passo que Regé-Jean Page pouco pode fazer como o descartável Carmichael. Já Ana de Armas tem mais uma oportunidade de mostrar seu talento para a ação e ainda que sua Miranda não possui o mesmo carisma da inesquecível Paloma de 007 Sem Tempo Para Morrer, pelo menos é durona o bastante para convencer nas sequências de ação.


Falando nelas, os Russo seguem quase todos os componentes da cartilha Michael Bay, seja explodindo alguma coisa a cada dez minutos ou se esbaldando com filmagens utilizando drones, novo fetiche de Bay. Se em Ambulância – Um Dia de Crime, o diretor de Transformers e Esquadrão 6 se distraía, deixando de focar a ação para dar voltas pelo cenário, aqui, Joe e Anthony Russo são um pouco mais disciplinados, limitando-se a utilizar os aparelhos para filmar perseguições, mesmo que aqui e ali entreguem-se ao floreio estético (a chegada do hospital).


Encerrando a narrativa com uma sequência absurda e cujo desfecho parece ter sido uma exigência da Netflix para eliminar pontas soltas e satisfazer o espectador casual, Agente Oculto é o tipo de aventura que, passado o burburinho de sua estreia, irá se misturar a obras semelhantes e não tardará a cair no esquecimento.


NOTA 4,5

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