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Foto do escritorGuilherme Cândido

Adaptação de "Mulan" amplia escala da lenda chinesa

É de se compreender que depois de tantos remakes/adaptações Disney, Mulan acabe por ser o mais contestado pela massa de espectadores. Afinal, estamos diante de uma geração já (mal) acostumada ao famigerado “fan service”, onde abandona voluntariamente a condição de espectador para assumir a de cliente. “Estou pagando para ver o que eu quero!”, “se estou pagando, eu quero ver um gênio azul e não cinza!”, e muitos outros comentários foram se acumulando para moldar aquele que viria a ser o novo perfil do espectador médio de blockbusters com o selo Disney. E “é exatamente como eu lembrava, idêntico ao desenho original!” passou a ser o elogio mais cobiçado pela alta cúpula da empresa do Mickey.


Mulan, por outro lado, vai na contramão dessa recente corrente de culto ao mimetismo cinematográfico, buscando (veja só que heresia!) amplificar o conteúdo da animação clássica. Em outras palavras, o que a cineasta Niki Caro faz é concentrar-se no potencial empoderador de Mulan e levá-lo ao mundo da forma mais direta possível.


Tomando a corajosa decisão de seguir uma estrutura mais tradicional, sem as famosas passagens musicais do desenho, Caro respeita sua fonte de origem justamente por mantê-la onde está, em seu devido pedestal. A animação continuará lá para aqueles que quiserem visitá-la, já a diretora neozelandesa escolhe fazer uma releitura da lenda chinesa que a inspirou.


O roteiro, por outro lado, dá seus tropeços e ainda que seja louvável em sua diretriz, demonstra uma alarmante falta de cuidado com seus diálogos, que soam excessivamente expositivos e sem qualquer refino. Além disso, o humor surge quase sempre deslocado e ao invés do riso acaba provocando desconforto no espectador (note as interações entre os soldados da Guarda Imperial).


Carregando o enorme peso da protagonista, Yifei Liu é o grande destaque de um elenco já elogiável pela homogeneidade. Ela é inteligente, por exemplo, por investir numa composição discreta que pode até ser confundida com inexpressividade, mas que na verdade, permite a identificação do espectador diretamente com seus dilemas, abraçando Mulan como algo maior do que uma pessoa: um símbolo.


Pois é justamente isso que Mulan é, um símbolo de coragem e determinação que parece ter influenciado diretamente os autores desta nova versão, que ousam até mesmo em promover uma importante mudança envolvendo a revelação da identidade da heroína que aqui ganha um arco dramático mais coerente ao evoluir durante sua jornada e tomar a iniciativa de se revelar ao invés de ser descoberta.


Em contrapartida, os fãs certamente vão reconhecer as inúmeras referências ao longa de 1998, desde as mais sutis, como a sequência de abertura, até aquelas explícitas na trilha sonora. Aliás, até mesmo os entusiastas de filmes de artes marciais se sentirão representados (além da presença de Donnie Yen) através das breves homenagens que pontuam determinadas sequências de ação.


Tecnicamente impecável, o mais novo lançamento do Disney + é o tipo de longa-metragem que se beneficiaria (e muito) da experiência num cinema, que daria vazão a toda a escala de sua produção, mas mesmo que não seja visto da forma mais apropriada, ao menos chega num momento altamente oportuno (mais um acerto dos produtores).


Mulan pode não ser a adaptação ipsis litteris que muitos esperavam, mas nessa onda de remakes da Disney, dificilmente surgirá um mais comprometido com os valores da obra original ou que tenha entendido melhor a sua mensagem.


NOTA 7

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