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'A Verdadeira Dor' discute luto com Kieran Culkin inspiradíssimo

  • Foto do escritor: Guilherme Cândido
    Guilherme Cândido
  • 29 de jan.
  • 3 min de leitura

*Filme visto durante o Festival do Rio 2024


David Kaplan (Jesse Eisenberg) e Benji Kaplan (Kieran Culkin) são dois primos-irmãos que resolvem se unir depois de vários anos, a fim de embarcarem numa viagem para a Polônia, onde farão uma excursão por marcos judeus e visitarão a casa onde a avó deles nasceu e cresceu. Enquanto David é mais contido, o tipo de antissocial com TOC que Jesse Eisenberg se especializou em interpretar, Benji é mais expansivo, cujo carisma é capaz de “acender qualquer ambiente” (nas palavras do primo). Colocar pessoas diametralmente opostas para embarcarem numa viagem onde deverão confrontar seus demônios internos não é exatamente algo original e a produção tem ciência disso. Em seu segundo trabalho como diretor, Eisenberg aposta todas as suas fichas no tipo de história simplista (não simplória) que serve como um quadro em branco para seus atores brilharem. Ou, nesse caso, para Kieran Culkin brilhar.

Irmão mais novo do ex-astro mirim Macaulay Culkin, Kieran já teve seu talento comprovado na brilhante série Succession, pela qual recebeu diversos prêmios, entre eles o Emmy e o Critic’s Choice. A primeira impressão que temos, aliás, é de estarmos assistindo a uma versão alternativa do Roman Roy que interpreta na TV, mas logo descobrimos que Culkin guarda muitas cartas na manga. Por trás dessa máscara extrovertida e maior que a vida, esconde-se um homem terrivelmente machucado, cujos motivos David só nos revela mais tarde, durante uma sequência profundamente tocante em que desabafa num restaurante.

Eisenberg segue confortavelmente preso na persona cinematográfica que apresentou ao mundo em A Rede Social, filme que lhe rendeu uma indicação ao Oscar. Esporadicamente saindo de sua zona de conforto (no recente Manodrome, por exemplo), ele parece mais interessado em interpretar a si mesmo do que em tornar David um papel realmente diferente do que costuma encarnar. Isso só não chega a ser um problema, porque é justamente sua composição que permite uma química tão forte com o Benji de Culkin, formando uma das melhores duplas cômicas dos últimos anos.

Apesar de tratar (com seriedade) temas sensíveis como o Holocausto, o luto e a depressão, A Verdadeira Dor é uma máquina de provocar gargalhadas, seja pelo comportamento muitas vezes inconveniente de Benji ou pelas reações de David. Há um quê de constrangimento também, digno de alguns episódios da primeira temporada de The Office e que servem para ilustrar as contradições que permeiam a mente de Benji, uma pessoa tão quebrada por dentro que a lógica deixou de gerir suas atitudes. É o que explica, por exemplo, sua explosão dentro de um trem ao julgar desrespeitoso estar viajando pela Polônia de primeira classe enquanto seus antepassados se amontoavam rumo à morte certa. Algum tempo antes, Benji desarmou a formalidade dos turistas ao tirar uma foto descontraída num monumento judeu, afinal. Ao invés de confundir, essa incoerência enriquece o personagem, dando sentido ao motivo que leva David a tolerá-la.

Pecando no uso excessivo da trilha sonora (atrapalhando momentos-chave), A Verdadeira Dor é uma experiência que se equilibra bem entre o humor e o drama, revelando uma faceta promissora e surpreendente de Jesse Eisenberg, que além de não comprometer como diretor, é hábil ao construir analogias e diálogos eficazes (“ignoramos o matadouro para podermos curtir um bom filé”) como roteirista, mesmo que não seja particularmente contundente ou original.


NOTA 8

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