"A Sogra Perfeita" mira no público viúvo de Paulo Gustavo
Provoca um certo alívio evidenciar a clara evolução em termos de linguagem que a mais recente neo-chanchada brasileira exibe, num esforço para eliminar o comodismo tão impregnado nos realizadores sob a batuta da Globo Filmes. A Sogra Perfeita, porém, ainda exibe alguns resquícios daqueles cacoetes narrativos tão comuns em folhetins "globais" e que teimam em influenciar nossas comédias.
Coadjuvantes concebidos como caricaturas que parecem comunicar-se apenas por meio de bordões, personagens que falam sozinhos, conversas ouvidas atrás da porta que se transformam em intrigas, trilha sonora obcecada em sublinhar o tom e guiar emoções, efeitos sonoros que antecipam transições... Exemplos abundantes e que se amontoam numa estrutura que segue a tendência de se espelhar no Cinema Hollywoodiano, entrando em conflito com os signos da Comédia Romântica clássica.
Há o mal entendido que colocará a protagonista numa corrida desesperada por reconciliação, mas também há a obrigatória participação musical durante o clímax (Fábio Jr., nesse caso, revelado nos créditos iniciais sem a menor cerimônia). Essas contradições também movem o discurso do filme, que se pretende progressista, mas só até a página dois, quebrando tabus e abraçando estereótipos de forma alternada e esquizofrênica.
Enquanto isso, todos os esforços de seus atores, privilegiando performances carismáticas e que quase desculpam piadas mofadas como a do padeiro português ou a famosa troça do impotente sexual, cujo bordão jurássico você já deve imaginar, revelam um descuido imperdoável e que encontra eco no instante em que um sujeito durante um encontro romântico simplesmente larga a amada para seguir a protagonista, sem se despedir ou permitir uma reação.
O trabalho visual, como numa novela, investe majoritariamente em planos fechados, dando pouco espaço para a direção de arte brilhar, talvez prenunciando uma provável migração para a Televisão, seguindo o mesmo caminho de obras semelhantes de seu estúdio. Os atores, preocupados com os closes, investem em composições carregadas ao mesmo tempo que buscam uma harmonia com os tipos populares representados na Mídia.
A atmosfera é calorosa, tentando transpor para as telas o senso de comunidade presente nos subúrbios brasileiros, onde vizinhos e comerciantes dividem rotinas, fazem churrascos juntos e participam das vidas um dos outros. As locações possuem verossimilhança, emulando com naturalidade o dia-a-dia pulsante de bairros suburbanos, seguindo a longeva predisposição de buscar uma aproximação com o popular.
A festa na laje, o samba como trilha obrigatória e os barracos histriônicos estão lá, assim como os conflitos, aqui costurados para seguirem a linha melosa, mais fácil de elaborar e mais rápida de se solucionar. Tudo da forma mais direta possível, sem espaço para meias palavras.
Assim, A Sogra Perfeita toca cada nota da canção favorita de seu público-alvo, cumprindo todos os requisitos da cartilha suburbana que o finado Paulo Gustavo dominou por anos e cujos fãs, ainda à deriva, são cobiçados e bajulados por produções que buscam desesperadamente o próximo Vai que Cola.
Um esforço que talvez divirta aquele tipo de espectador pouco exigente que procura a desculpa perfeita para comer pipoca em boa companhia.
NOTA 5,5