"A Mãe" é o mais novo filme de ação genérico da Netflix
Apesar de uma trajetória extremamente bem-sucedida como cantora e dançarina, a nova-iorquina de ascendência porto-riquenha Jennifer Lopez há muito tempo (27 anos, para ser mais preciso) resolveu seguir os passos de nomes como Barbra Streisand, Bette Midler e Whitney Houston e buscou os holofotes hollywoodianos. Entre hits açucarados como O Casamento dos Meus Sonhos e o queridinho da Sessão da Tarde Encontro de Amor, faltava a J-Lo (como é chamada pelos fãs) um filme de ação para chamar de seu. É verdade que Lopez já se aventurou por longas como o desastroso Contato de Risco (ao lado de Ben Affleck, seu namorado à época) e o bobo Parker (com o especialista Jason Statham), mas foi com o intenso Nunca Mais, no qual interpretou uma mulher em busca de vingança contra o marido abusivo, que ela chegou mais perto de protagonizar sua própria sequência de ação. Se antes ela interpretava personagens que acabavam envolvidas passivamente, A Mãe, novo “Original Netflix”, a coloca pela primeira vez no centro da ação.
Antes de se tornar a Mãe do título, a protagonista (que jamais ganha um nome), chegou a atuar como sniper pelo governo estadunidense, mas acabou enveredando pelo mundo do crime ao mediar as negociações entre o traficante de armas Hector Álvarez (Gael Garcia Bernal, de Tempo) e o ganancioso ex-fuzileiro naval Adrian Lovell (Joseph Fiennes, da série The Handmaid’s Tale). Ela no entanto comete o erro capital de se envolver amorosamente com ambos e após descobrir estar grávida, resolve procurar o FBI para fornecer informações em troca de proteção. Claro que tudo vai pelos ares e ela se torna alvo de Adrian, que antes de sumir do mapa esfaqueia a barriga da mulher. Felizmente, o bebê nasce saudável, mas ela é obrigada a entregá-lo para adoção a fim de mantê-lo em segurança, longe de seus inimigos. Não é difícil de prever que em algum momento (mais de uma década depois) a criança será perseguida pelo vingativo Adrian, forçando a Mãe a deixar seu esconderijo e buscar um acerto de contas.
Acredite se quiser, uma trama simples e manjada como essa teve de passar pelas mãos de três roteiristas diferentes até ganhar sua convoluta versão final, que jamais consegue ir além do lugar-comum ao emular a batidíssima dinâmica entre o assassino frio e o jovem protegido, pilar de obras infinitamente superiores como O Profissional e O Exterminador do Futuro 2. Em sua rasa pretensão como mera adição à já pútrida seção de filmes similares da Netflix, o máximo que A Mãe consegue é se aproximar daqueles filmes menores estrelados por Liam Neeson (o fraco Na Mira do Perigo e o genérico Agente das Sombras, por exemplo), pois se resolvermos compará-lo com as produções de Jason Statham (os bons Carga Explosiva 2 e O Código, por exemplo), aí é que a coisa fica realmente feia.
Por mais que tente, Jennifer Lopez não é Statham, ou Neeson e muito menos Schwarzenegger ou Jean Reno. Ela se esforça para convencer como heroína de ação, caprichando na expressão fechada e demonstrando naturalidade ao empunhar pistolas, escopetas e rifles, mas a parcela melosa do roteiro sabota seus esforços. O trio de roteiristas que inclui a indicada ao Oscar Andrea Berloff (por Straight Outta Compton: A História do N.W.A.), exagera na sacarose ao tentar desenvolver a relação entre mãe e filha, entregando-se a sequências melodramáticas que chegam ao ápice na inacreditável cena em que alguém deixa cair uma lágrima na carta que está lendo. E se você pensa que não dá para piorar, espere até ver as formas encontradas pelos roteiristas para mostrar como a garota se parece com a mãe: Além da expressão de choro à la Gabriel Jesus, elas se entregam ao mesmo tipo de chilique, num surto patético semelhante ao da Celinha vivida por Adriana Esteves na sitcom Toma Lá, Dá Cá.
Enquanto isso, Niki Caro, da qual muitos se lembrarão por ter dirigido a série Anne With an E e o subestimado live action de Mulan, mas que também realizou os ótimos Encantadora de Baleias e Terra Fria, até se sai bem ao conceber as sequências de ação, mesmo que estas sejam pouco ou nada originais (a perseguição na neve parece saída de algum filme de James Bond), mas se prejudica com os cortes excessivos da montagem (repare como o simples ato de contar dinheiro em uma lanchonete é picotado três vezes), que sofre para dar coesão às pancadarias.
Curioso ao encontrar espaço para um discurso contra o veganismo (“tudo o que comemos é fruto da violência”) no meio de uma trama já inchada, A Mãe ainda desperdiça o veterano Paul Raci (indicado ao Oscar pelo excelente O Som do Silêncio) num papel tão medíocre quanto as analogias que o roteiro atira no meio da história para tecer comentários sobre a maternidade, dificultando a tarefa de distinguir este Original Netflix de outros igualmente esquecíveis, como o recente (e tematicamente idêntico) Lou. Numa realidade onde a inteligência artificial ganha cada vez mais espaço, a Netflix toma a iniciativa de construir seu próprio gênero cinematográfico: o de “filmes de algoritmo”.
NOTA 3,5
Concordo com seus comentários. Admiro a atriz Jannifer mas,nesse personagem,não gostei da atuação dela.